quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A ação coletiva aos olhos da mídia - Revista Time


A ação coletiva aos olhos da mídia - Ou revitalizando os paradoxos de Sisifo


Sem dúvida não vivemos uma nova "primavera dos povos". Considero demasiado exagerada a comparação do que vimos em Wall Street ou no Oriente Médio com os fatos ocorridos no mundo na década de 1960. Ainda são muito difusos e obscuros, particularmente no Oriente Médio, os "móveis" ou gatilhos que deflagraram estes movimentos da sociedade civil. Justamente pela falta de acompanhamento minimamente aberto da realidade destes países em âmbito midiático é arriscado articularmos factualmente o que por lá ocorreu. Penso inclusive, por hipótese, em razões muito mais pragmáticas do que questões substantivas do imaginário social ocidental de cunho iluminista. Palavras de ordem costumeiramente apresentadas pela intelectualidade, democracia, liberdade, igualdade, dentre outras, talvez não tenham sido os móveis do "homem comum" árabe. Mas, como disse, prefiro a cautela do que o julgamento com ares de audácia sociológica.

Algo não menos problemático no caso dos protestos contra o sistema financeiro dos EUA onde ambos os lados parecem hipostasiar suas posições. De forma inegavelmente maniqueista. Isso torna as questões ainda opacas em demasia, o que me permite apostar em uma "decantação" dos fatos no médio prazo para a proposição de um diagnóstico menos inseguro.

Todavia, não deixa de ser alvissareiro vermos as possibilidades de reinvenção da ação coletiva neste longo ano de 2011. A entrada das novas tecnologias de informação gerou novas possibilidades de construção de redes, mesmo que profundamente hierarquizadas e desiguais na produção de interpretações simbolicamente relevantes, que possibilitou arranjos de "protesto" e "conflito" realmente inovadores. Tão inovadores quanto imprevisíveis dada a sua descentralização by nature. Inclusive esta pulverização não me autoriza a pensar em um mote único para que estes indivíduos e grupos tenham se mobilizado. Mais uma vez defendo a explicação multivariada como via de entendimento minimamente dos acontecimentos neste e em tantos outros casos.

O que me surpreende, para além das conexões digitais em redes sociais, é a objetivação destas em forma de protestos de massa e interações invariavelmente desconexas e concretas. Algo provocou o homem (e a mulher) comum de modo que o rochedo do "auto-interesse" se deslocasse para inúmeras pessoas que não tiveram o aprendizado político de décadas anteriores. Veremos a longevidade destas possibilidades? Mas, só ex post facto....

A escolha da revista estadunidense "Time" de eleger uma personalidade sem rosto, algo que não é exatamente uma novidade do hebdomadário, nos sinaliza que algo ocorreu com o imaginário social médio neste ano. E é este o ponto que julgo mais relevante. Se o subsistema de comunicação de massa, em seu inegável processo de redução de complexidade, aponta para um elemento subversivo que é o conflito enquanto gramática relevante e até legítima... Fica um otimismo enquanto vontade do século XXI finalmente se apresentar de forma substantiva e dizer a que veio este pouco admirável mundo novo. Sisifo, em algum lugar da mitologia, deve estar com uma sensação persistente de deja vu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário