terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Links de Interesse - "The Global Sociology Blog"

Prezad@s,

Acompanho este blog em lingua inglesa há muito tempo. Trata-se do "The Global Sociology Blog", um espaço elaborado por sociólogos que militam na lingua inglesa. O mesmo detém farto material sobre teoria social, análises e gráficos inteligentes sobre as grandes questões mundiais (meio ambiente, desigualdade social, industrialização, etc.), resenhas de livros recém publicados.....além de um humor elegante representado por charges e observações argutas dos produtores de conteúdo por lá.

Há momentos de boa música, compartilhamento de textos e sempre um homenageado de peso no setor "Sociologist of the Semester". Neste primeiro semestre de 2012 a "bola da vez" é Manuel Castells.

Enfim, vale conferir se o leitor domina a lingua de Shakespeare. E irá ocupar lugar permanente aqui no nosso "links de interesse". Afinal, o "Global Sociology" funcionou para mim como fonte de inspiração para retornar ao mundo dos blogs no "Sociologia NF"... Embora que este último com alcance e ambições bem mais modestas que a versão gringa...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ulisses, sereias e o caso Google: a erosão da privacidade




Ah, o direito à privacidade! Bem construído no processo de elaboração da figura do “indivíduo”, o grande herói moderno de quase todas as narrativas,  indispensável para pensarmos a sociabilidade nos últimos séculos, vem sendo espantosamente erodida. Lembrando Jon Elster, há novos cantos de sereias para o Ulisses do capitalismo maduro. E o canto para Ulisses nesse momento é apresentado com os tons e acordes que satisfaçam, em diversas manifestações, os tímpanos narcísicos. A industria cultural elaborou um novo tipo “legítimo”, que é o da celebridade instantânea, e este elemento replica em manifestações cotidianas. Ora, ver-se e ser visto em uma tela tornou-se possibilidade acessível a diversos estratos sociais. Mesmo que seja por alguns segundos, mediante tarefas insignificantes para a maioria, e que caia no mais profundo e mortal esquecimento tão logo tenham sido vistas. Sim, vistas. Jamais compreendidas.

Compreendo este processo enquanto paradoxal. Há uma profunda complexificação dos direitos civis nos dias que correm, em paralelo a um tipo de exposição que faria mesmo a imaginação orwelliana simplesmente corar. Não há como um observador ficar impassível diante das novas formas de socialização, com sua torrente de hierarquia de valores sendo apresentada envolta em novos e atraentes formatos, a despeito dos códigos jurídicos avançarem, sempre atrás da sociedade, em legislações protetivas. Aí, como o herói da Odisséia, cabe optar se iremos colocar cera de abelhas em nossos ouvidos ou iremos atender ao sedutor apelo das sereias virtuais. Todavia esta é uma escolha voluntária. Algo diferente ocorre no caso “Google”.

Venho acompanhando notícias sobre as “novas políticas de privacidade” da megaempresa Google. E sabemos o que os cantos sedutores implicam nas redes sociais: em última instância, para satisfazer o desejo narcísico de exibir o cachorrinho recém adquirido ou o churrasco de família no fundo de quintal, paga-se o tributo da perda da privacidade entregando informações que podem ser cruzadas atendendo os objetivos de geração de armas de marketing cada vez mais eficazes. As preferências pessoais estão ali, onde podem ser feitos surveys não autorizados detectando perfis de consumidores para todo tipo de finalidade. Mas, como disse, é opcional participar destas redes, sobretudo as mais populares. Aos usuários cabe o ônus, aos proprietários o bônus.

Mas, o caso Google conta com nossa colaboração mais sutil e involuntária. Recomendo lerem o texto postado no Portal Vermelho aqui onde há explicações pragmáticas para evitarem, se assim desejarem, terem suas pesquisas e demais atividades ocorridas sob a grife “Google” devidamente rastreadas e indevidamente utilizadas. Há enorme alvoroço, naturalmente, sobre esta ação da empresa, gerando controvérsias inclusive no atual governo dos EUA. Veremos onde iremos parar. 

Evidente que nossos dados são rastreados pelo Estado enquanto uma ação necessária para fins fiscais/tributários. O problema aqui é a finalidade. Enquanto que a entrega de registros financeiros decorre enquanto resposta ao nosso Leviatã, mediante uma série de serviços e bens disponibilizados por este no árduo processo de gerenciamento de demandas coletivas, o Google buscaria justamente algo mais do que extratos bancários individuais. A utilização da internet e de seus serviços, mormente para fins sócio-culturais, entrega ao novo-Leviatã virtual nada mais que nossas preferências, nossa forma de pensar... Se lemos revista “X” ou “Y”, qual nosso time de coração e nossa literatura predileta. Em suma, aquilo que nos individualiza e nos revela em maior grau do que os dividendos apresentados para a Receita Federal anualmente. 

O alcance deste tipo de informação para as empresas que ofertam bens e serviços desta natureza não são mensuráveis. Só adianto que os menos cuidadosos serão vistos como consumidores em potencial e não serão vistos como cidadãos portadores de direitos. Há a possibilidade de não colaborar voluntariamente com esta empreitada. Mais uma vez, sartreanamente, o mundo de escolhas está apresentado.

PS: Ilustra este texto o quadro “Ulisses e as sereias” de Herbert James Draper. Maiores informações sobre outros trabalhos do artista podem ser obtidas aqui no Blog do Hermes.