domingo, 17 de junho de 2012

Leituras da Conjuntura: Notas sobre a demissão de Celso de Castro Barbosa


Leituras da Conjuntura: Notas sobre a demissão de Celso de Castro Barbosa

Por Prof. Leonardo Soares dos Santos
Dr. em História
Prof. do PUCG/UFF

Em que tipo de país um homem ainda é demitido por ter a desfaçatez de expressar uma opinião? A resposta envergonharia até Pero Vaz de Caminha. Afinal, quando o Brasil chegará ao I Milênio????



 


Tudo bem que estou bastante atrasado. Mas é com estarrecimento e, desculpe a pieguice, com indignação que recebo a notícia de que o jornalista Celso de Castro Barbosa foi demitido do conselho editorial da Revista de História da Biblioteca Nacional pelo fato de publicar um texto no site da mesma, por meio do qual tece vários elogios ao livro "A Privataria Tucana", de autoria de Amaury Ribeiro Jr. Segundo fontes da imprensa o PSDB teria ficado uma "Arara"(!!) com a "resenha elogiosa" e tratou de pressionar pela demissão do historiador. No que teve sucesso, segundo fontes do insuspeito O Globo....

Meu Deus, mas que país é esse???? Como admitir que um cidadão seja afastado de suas funções simplesmente por exercer um direito inalienável, garantido pela Constituição brasileira, que é o direito irrestrito e inatacável de emitir sua opinião, idéias e conceitos sobre qualquer coisa e em qualquer lugar. Como admitir um atentado tão rasteiro contra a democracia por parte de um partido, e partido esse adora posar de guardião da mesma?? Como aceitar que em pleno século XXI alguém seja ameaçado, coagido e atacado por defender um ponto de vista sobre um projeto político??? Como conceber que alguém seja perseguido pelo fato de que no exercício de suas atividades - e atividades essas de cunho acadêmico e cultural - o sujeito tenha expressado uma posição contrária sobre um governo e suas ações quando esteve no comando da Nação e que por desagradar seus representantes seja simplesmente demitido???

O que mais falta acontecer para demonstrar o nível degradante em que esse país se encontra em termos de tolerância e convívio democrático entre diferentes?? O que podemos esperar de um país onde um cidadão que tenha uma opinião contrária a minha possa ser livremente perseguido, como um mal-feitor??

E é bom que se diga: trata-se de um absurdo não apenas porque a vítima desse ato truculento foi alguém que criticou um partido que devastou com o serviço público desse país. Pensemos na hipótese de um cidadão ser punido pelo fato de ter tido a iniciativa de elogiar os 8 anos dos tucanos no Palácio do Planalto. Daqui seria o primeiro a contestar tal opinião, mas daí a imaginar que seja aceitável punir com demissão um sujeito por emiti-la e defendê-la: jamais. Pois do contrário estaria corroborando a ideia – igualmente repugnante - de que ser liberal é um crime. Por outro lado, que se conteste e se rebata as opiniões do sr. Barbosa pelo que elas possam ter de equivocadas, mas que se faça de maneira franca e dentro do princípio do direito ao contraditório, no contexto de um debate livre, aberto e honesto. O que se fizer além é censura. É truculência. É a barbárie.

Depois disso como não pensar que o Brasil realmente não passe de um arremedo de democracia, onde seus cidadãos correm o risco de perder seu emprego por falar mal de uma administração política?? Será realmente este um país civilizado, republicano, de liberdades democráticas plenas, de livre troca e expressão de idéias, ou não passamos ainda de uma republiqueta tacanha, de ares coloniais e escravistas, uma mistura de Sucupira e Faroeste Caboclo, onde a simples enunciação de uma opinião não se constitui num ato banal e corriqueiro - como o ato de trocar de roupa ou aparar os pelos das narinas-, mas algo perigoso e arriscado, que exige muita coragem e destemor, que exige de quem a faça que se pense "nas consequências"....

Se assim for trata-se não de uma República - autêntica e efetiva, mas está mais para um curral cujos emblemas e símbolos republicanos agridem nossa inteligência, constrangem o mínimo senso de decoro e nos dão a certeza de que esse país nunca foi e nunca será qualquer coisa e em qualquer lugar.

Ou podemos quando muito ser isso:


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