quarta-feira, 11 de julho de 2012

Para discutir a questão ambiental hoje - Arthur Soffiati


Breve apresentação do texto "Para discutir a questão ambiental hoje"

George Gomes Coutinho

Prezad@s,

Venho lhes trazer uma reflexão do prof. Aristides Arthur Soffiati. O mesmo se aposentou “oficialmente” há pouco enquanto professor de História do Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes da UFF-Campos. Mas, nem de longe Aristides, como o chamo, calçou seus chinelos e pijama listrado. 

 Em verdade, Aristides é um dos mais eloquentes militantes da questão ambiental, além de pesquisador da área, e jamais abdicou da vocação pública que deveria ser uma das razões de ser da atividade intelectual.
Nestes tempos de “aposentadoria oficial”, Aristides prossegue atuando em grupos de pesquisa, intervindo nos níveis de ensino que lhe são apresentados e escreve regularmente. Além da produção científica, para os iniciados, o autor segue disciplinada intervenção na imprensa. Em âmbito local, mantém uma coluna semanal no jornal “Folha da Manhã”. 

Particularmente, no dia 13 de maio do ano corrente, Aristides nos apresentou o texto “Para discutir a questão ambiental hoje”, atento à conjuntura da Rio+20. O texto em si foi divulgado pelo teólogo e filósofo Leonardo Boff e foi traduzido para o inglês, o alemão, o espanhol e o italiano.  

Tomei conhecimento do conteúdo do artigo e observo os seguintes elementos: primeiramente, é um belo texto para “não convertidos”, informando sobre a gravidade estrutural da questão ambiental, ou para os “convertidos” que necessitam afiar seus argumentos em prol da causa. Igualmente, o enquadro enquanto “divulgação científica”, por traduzir para o leitor não especializado elementos de profunda complexidade.

Mas, o “creme de la creme” do texto é justamente seu núcleo, como se pode supor. Uma crítica direta, objetiva e sem peias ao padrão civilizatório em voga. O autor nos apresenta uma interpretação sistêmica dos marcos valorativos e materiais de nossa sociedade dentro dos limites do pequeno artigo. Sem desconsiderar a validade da produção de documentos normativos sobre a questão ambiental (vide Agenda 21 e congêneres), os mesmos se apresentam deficitários em termos de alcance ao se deparar com os fundamentos sistêmicos que guiam o Ocidente. 
 
Enfim, vamos ao texto:


Para discutir a questão ambiental hoje
Arthur Soffiati
Há cerca de 11 mil anos, a temperatura da Terra começou a se elevar naturalmente, produzindo o derretimento progressivo da última grande glaciação. Grande parte da água, passando do estado sólido para o líquido, elevou o nível dos mares, separou terras dos continentes, formou ilhas, incentivou a formação de florestas e de outros ambientes. Os cientistas deram a essa fase o nome de Holoceno.

Nesses últimos 11 mil anos, restou dos hominídeos apenas o Homo sapiens, que se tornou soberano em todo o planeta. Com um cérebro bem desenvolvido, ele foi desafiado pelas novas condições climáticas e domesticou plantas e animais, inventando a agropecuária. Criou tecnologia para polir a pedra, inventou a roda, a tecelagem e a metalurgia. Criou as cidades. Várias civilizações ultrapassaram os limites dos ecossistemas em que se ergueram, gerando crises ambientais que contribuíram para o seu fim.

O conceito de pegada ecológica se refere ao grau de impacto ecológico gerado por um indivíduo, um empreendimento, uma economia, uma sociedade. A pegada ecológica das civilizações anteriores à civilização ocidental sempre teve um caráter regional. O Ocidente foi a civilização mais pesada até o momento. O peso começou com o capitalismo, que transformou o mundo.

A partir do século XV, a civilização ocidental (leia-se europeia) passou a imprimir marcas profundas com a expansão marítima. Impôs sua cultura a outras áreas do planeta. O mundo foi ocidentalizado e passou também a pisar fundo no ambiente.

Veio, então, outra grande transformação com a Revolução Industrial. Ela se expandiu pelo mundo, dividindo-o em países industrializados e países exportadores de matéria-prima. A partir dela, começa a se criar uma outra realidade planetária, com emissões de gases causadores do aquecimento global, devastação de florestas, empobrecimento da biodiversidade, uso indevido do solo, urbanização maciça, alterações nos ciclos de nitrogênio e fósforo, contaminação da água doce, adelgaçamento da camada de ozônio, extração excessiva de recursos naturais não-renováveis e produção de quantidades inéditas de lixo.

Os cientistas estão demonstrando que, dentro do Holoceno (holos = inteiro + koinos = novo), a ação humana coletiva no capitalismo e no socialismo provocou uma crise ambiental sem precedentes. Eles denominam o período pós-Revolução Industrial de Antropoceno, ou seja, uma fase geológica construída pela ação coletiva do ser humano (antropos = homem + koinos = novo).
Em função dessa crise a ONU vem promovendo grandes conferências internacionais, como a de Estocolmo (1972), a Rio-92 e a Rio+20. O objetivo é resolver os problemas do Antropoceno, seja conciliando desenvolvimento econômico e proteção do ambiente, seja buscando outras formas de desenvolvimento. A Rio-92 adotou a fórmula do desenvolvimento sustentável, que ganhou diversos sentidos, inclusive antagônicos ao original.

Os países industrializados não querem abdicar da sua posição; os países emergentes querem alcançar os industrializados; e os países pobres querem ser emergentes. Enquanto não houver entendimento acerca dos limites do planeta, inútil pensar em justiça social e desenvolvimento econômico. O ambiente é mais importante que o social e o econômico, já que sem ele não se pode encontrar solução para os outros dois

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