Breve apresentação do texto "Para discutir a questão ambiental hoje"
George Gomes Coutinho
Prezad@s,
Venho lhes
trazer uma reflexão do prof. Aristides Arthur Soffiati. O mesmo se aposentou
“oficialmente” há pouco enquanto professor de História do Pólo Universitário de
Campos dos Goytacazes da UFF-Campos. Mas, nem de longe Aristides, como o chamo,
calçou seus chinelos e pijama listrado.
Em verdade, Aristides é um dos mais eloquentes
militantes da questão ambiental, além de pesquisador da área, e jamais abdicou
da vocação pública que deveria ser uma das razões de ser da atividade
intelectual.
Nestes tempos de
“aposentadoria oficial”, Aristides prossegue atuando em grupos de pesquisa,
intervindo nos níveis de ensino que lhe são apresentados e escreve
regularmente. Além da produção científica, para os iniciados, o autor segue
disciplinada intervenção na imprensa. Em âmbito local, mantém uma coluna
semanal no jornal “Folha da Manhã”.
Particularmente,
no dia 13 de maio do ano corrente, Aristides nos apresentou o texto “Para
discutir a questão ambiental hoje”, atento à conjuntura da Rio+20. O texto em
si foi divulgado pelo teólogo e filósofo Leonardo Boff e foi traduzido para o
inglês, o alemão, o espanhol e o italiano.
Tomei
conhecimento do conteúdo do artigo e observo os seguintes elementos:
primeiramente, é um belo texto para “não convertidos”, informando sobre a
gravidade estrutural da questão ambiental, ou para os “convertidos” que
necessitam afiar seus argumentos em prol da causa. Igualmente, o enquadro
enquanto “divulgação científica”, por traduzir para o leitor não especializado
elementos de profunda complexidade.
Mas, o “creme de
la creme” do texto é justamente seu núcleo, como se pode supor. Uma crítica
direta, objetiva e sem peias ao padrão civilizatório em voga. O autor nos
apresenta uma interpretação sistêmica dos marcos valorativos e materiais de nossa
sociedade dentro dos limites do pequeno artigo. Sem desconsiderar a validade da
produção de documentos normativos sobre a questão ambiental (vide Agenda 21 e
congêneres), os mesmos se apresentam deficitários em termos de alcance ao se
deparar com os fundamentos sistêmicos que guiam o Ocidente.
Enfim, vamos ao
texto:
Para discutir a questão ambiental
hoje
Arthur Soffiati
Há cerca de 11 mil anos,
a temperatura da Terra começou a se elevar naturalmente, produzindo o
derretimento progressivo da última grande glaciação. Grande parte da água,
passando do estado sólido para o líquido, elevou o nível dos mares, separou
terras dos continentes, formou ilhas, incentivou a formação de florestas e de
outros ambientes. Os cientistas deram a essa fase o nome de Holoceno.
Nesses últimos 11 mil
anos, restou dos hominídeos apenas o Homo sapiens, que se tornou soberano em
todo o planeta. Com um cérebro bem desenvolvido, ele foi desafiado pelas novas
condições climáticas e domesticou plantas e animais, inventando a agropecuária.
Criou tecnologia para polir a pedra, inventou a roda, a tecelagem e a
metalurgia. Criou as cidades. Várias civilizações ultrapassaram os limites dos
ecossistemas em que se ergueram, gerando crises ambientais que contribuíram
para o seu fim.
O conceito de pegada
ecológica se refere ao grau de impacto ecológico gerado por um indivíduo, um
empreendimento, uma economia, uma sociedade. A pegada ecológica das
civilizações anteriores à civilização ocidental sempre teve um caráter
regional. O Ocidente foi a civilização mais pesada até o momento. O peso
começou com o capitalismo, que transformou o mundo.
A partir do século XV, a
civilização ocidental (leia-se europeia) passou a imprimir marcas profundas com
a expansão marítima. Impôs sua cultura a outras áreas do planeta. O mundo foi
ocidentalizado e passou também a pisar fundo no ambiente.
Veio, então, outra
grande transformação com a Revolução Industrial. Ela se expandiu pelo mundo,
dividindo-o em países industrializados e países exportadores de matéria-prima.
A partir dela, começa a se criar uma outra realidade planetária, com emissões
de gases causadores do aquecimento global, devastação de florestas,
empobrecimento da biodiversidade, uso indevido do solo, urbanização maciça,
alterações nos ciclos de nitrogênio e fósforo, contaminação da água doce,
adelgaçamento da camada de ozônio, extração excessiva de recursos naturais
não-renováveis e produção de quantidades inéditas de lixo.
Os cientistas estão
demonstrando que, dentro do Holoceno (holos = inteiro + koinos = novo), a ação
humana coletiva no capitalismo e no socialismo provocou uma crise ambiental sem
precedentes. Eles denominam o período pós-Revolução Industrial de Antropoceno,
ou seja, uma fase geológica construída pela ação coletiva do ser humano
(antropos = homem + koinos = novo).
Em função dessa crise a
ONU vem promovendo grandes conferências internacionais, como a de Estocolmo
(1972), a Rio-92 e a Rio+20. O objetivo é resolver os problemas do Antropoceno,
seja conciliando desenvolvimento econômico e proteção do ambiente, seja buscando
outras formas de desenvolvimento. A Rio-92 adotou a fórmula do desenvolvimento
sustentável, que ganhou diversos sentidos, inclusive antagônicos ao original.
Os países industrializados não querem abdicar da sua posição; os
países emergentes querem alcançar os industrializados; e os países pobres
querem ser emergentes. Enquanto não houver entendimento acerca dos limites do
planeta, inútil pensar em justiça social e desenvolvimento econômico. O
ambiente é mais importante que o social e o econômico, já que sem ele não se
pode encontrar solução para os outros dois
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