Mas o que motivou tamanho lance de gênio?
Se fosse pelo currículo, não havia porque ter chamado Mano
Menezes para o cargo de técnico da Seleção Brasileira. Vá lá que outros nem
isso tinham: casos de Falcão e Dunga. Mas foram invenções absurdas do Ricardo
Teixeira. Este voltou a inventar, só que com um agravante: ao chamar
Mano,Teixeira entregava em suas mãos a Seleção que tentaria o título de campeão
mundial jogando em casa. Caso acontecesse
seria o título mais glorioso na história da Seleção. Uma conquista que ficou
entalada desde o chute de bico de Gighia no Maracanã lotado naquela fatídica
tarde de 16 de julho de 1950. E o Brasil foi vice depois daquele chute que
entrou entre o vascaíno Barbosa e a trave. Tinha que ser um vascaíno....
A escolha de Mano foi descabida. Com um título do simplório
campeonato gaúcho e uma Copa do Brasil pelo Corinthians, o que mais Mano ganhou
que justificasse a sua escolha? Ganhou dois campeonatos brasileiros. Foi
campeão pelo Grêmio e pelo Corinthians. Campeão do campeonato brasileiro da
Segunda Divisão. Segunda Divisão! Em 2005 e 2009 respectivamente. Vejam: os títulos mais
importantes do cartel do técnico gaúcho são da divisão inferior. Ele tem
literalmente um currículo de segunda. Onde,
quando e como um técnico com um currículo desses poderia assumir a Seleção
Brasileira? Só pelas mãos do tresloucado ex-presidente, que fugiu para Boca
Ratón, sem responder qualquer das acusações lançada contra ele. Uma sequer.
Para completar, a Justiça Suíça logo após a sua saída revelou uma decisão dela
que tramitava em segredo: o ex-presidente foi considerado culpado por receber
propina de uma empresa ligada ao mercado publicitário.
E como se não bastasse o péssimo trabalho a frente da
Seleção, Mano se esmerou em fazer convocações absurdas. Testou em pouco mais de
2 anos 13 goleiros. Como ele conseguiu fazer isso? Isso começou a chamar a
atenção. O canto de trás das nossas orelhas começou a coçar com insistência. Uma
das últimas foi convocar Felipe Gabriel, reserva do Botafogo.
Reserva do Botafogo!!
Tudo muito estranho. Aí já não dava pra ignorar as palavras
do Baixinho sobre Mano. Por mais que descambasse para a baixaria, com o
Baixinho chamando o treinador de “idiota” e “imbecil”, o agora deputado
socialista (embora seja do PSB...) denunciava:
“Você (Mano) convocou mal, por interesses dúbios, levando
Hulk em cima da hora e deixando David Luiz. Escalou mal os 18 jogadores que
você tinha na mão. Lucas é disparado o melhor da seleção, depois do Neymar”.
E Romário completava que ele era “atrasado taticamente”. Não
acreditava que ele fosse capaz de realizar qualquer inovação no time porque
“[Você, Mano,] não tem capacidade, inteligência, segurança,
hombridade para fazer isso. Você é medroso, você é pior treinador de todos os
tempos da Seleção, é só ver os resultados. Uma vergonha para meu país”
Mas isso era o de menos. As acusações de Romário eram
sérias, graves. E Mano – talvez seguindo o mal exemplo de cima – não veio à
público para esclarecer, contestar, repelir, desdizer uma afirmação sequer. No
meio disso tudo – acusações, jogos pífios da seleção etc. – Mano ainda
encontrava tempo para ser pego no teste do bafômetro no Rio. Ou melhor, acabou
se recusando em assoprar o aparelho...
Em setembro, Romário voltava à carga e fazia novas
acusações. Cada uma mais cabeluda que a outra. Mas esta era demais. Depois da
convocação de Cássio, goleiro do Corinthians – do mesmo empresário de Mano – o
baixinho disparava:
“E, agora, o goleiro do Corinthians, que tem seus direitos
econômicos ligados a pessoas da Confederação Brasileira de Futebol. Após a
convocação e alguns jogos pela seleção, se já não foi, será vendido para o
Roma. Quem leva? Uma instituição como a CBF, que é isenta de impostos federais,
já está mais que na hora de passar por uma auditoria”.
E o deputado lembrava de outra situação:
“A convocação do Hulk para as Olimpíadas e, logo em seguida,
a realização de uma das transferências mais caras da história do futebol. O
jogador saiu do Porto, de Portugal, para o Zenit, da Rússia, por 55 milhões de
euros (R$ 140,8 milhões).”
Segundo Romário eram indícios mais do que suficientes de que
estava em operação na Seleção um verdadeiro “cartel nas convocações”. Mas será
Romário? Não acredito....
E de maneira patética Romário chega a clamar ao
“Grande(sic) ministro" Aldo Rebelo, o comunista,
"o povo brasileiro não merece isso, nos ajude
a acabar com essa sacanagem.”
Mas por que só agora? Por que só depois de 2 anos? Por que
só depois de tantas trapalhadas Marin descobriu que a Seleção não merecia Mano?
A explicação não é técnica. A técnica nunca entra no campo
da política. Em qualquer lugar. A política tem suas leis. E elas são férreas. E
mais do que isso: ela tem seu tempo. Que é diferente da técnica e da política. Ainda
mais com uma disputa política muito séria no primeiro escalão da CBF. Uma luta
dupla. Uma da atual cúpula – que é hegemonizada pela federação paulista – contra
as federações mais resistentes a tamanho domínio paulista, mas que já foi quase
contornada. Mas há uma outra ainda acesa. Que é remover os antigos protegidos
de Ricardo Teixeira, e que são na sua maioria ligados ao Corinthians. Nesse
caso Marin e Marco Polo Del Nero – umbilicalmente ligados ao São Paulo – lutam
para desalojar o grupelho do Parque São Jorge que se instalou há pouco mais de dois
na CBF. Mas não é fácil. Mano foi o primeiro a ser limado. Agora falta Andrés
Sanches, ex-presidente do Corinthians. Mas esse não é protegido apenas por
Teixeira, mas por Lula. Esse deu o Itaquerão. Em troca Andrés trabalhou arduamente
como cabo eleitoral de Haddad. Marín sabe o quanto é custoso remover seu grande
adversário. Mesmo que Andrés queira ser o novo presidente da CBF. O custo pode
pesar: Andrés é ligado ao homem que sempre fez a ponte entre a CBF e as
empreiteiras. Fundamentais para as obras da Copa...
Mas Marín, homem tarimbado, que forjou seu nome durante os
anos de chumbo da ditadura, espécie de patrono do DOPS, sabe trabalhar com o
tempo. Deixa que o adversário se desgaste. E trabalha pra isso. Calmamente.
Cozinhando com astúcia e certa crueldade o adversário. E joga pra isso com o
tempo. Seu principal aliado. Por isso esperou até o fim do ano. Por isso fez
questão que fosse Andrés o homem a anunciar a demissão de Mano. Fez Andrés dar
uma coletiva e isso depois de ser voto vencido sobre a demissão do técnico.
Quer medir até onde vai a obstinação de Andrés em confrontá-lo. É uma guerra de
nervos. Dura. Ele quer ver o quanto de pancada pode aguentar o ex-verdureiro,
fundador do Pavilhão 9 – torcida organizada do Corinthians.
A essa disputa o futebol brasileiro está refém. É
sintomático também que a demissão de Mano tenha sido votada não na sede da CBF,
mas na sede da Federação Paulista de Futebol e foi ali também que Andrés foi
obrigado a comunicar a demissão de seu amigo.
O Brasil vai de mal a pior. Mas os paulistas não estão nem
aí com isso. O poder embriaga. E o poder hoje está com os paulistas
encastelados na CBF. E isso é só o começo da ofensiva bandeirante. Eles querem
mais.
Leonardo Soares é professor e carioca. E raramente vai à praia.