terça-feira, 29 de outubro de 2013


PARTE I


CURSO DE HISTÓRIA
ESR/SFC
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
 Prof. Leonardo Soares dos Santos





Texto 1: Os quatro preceitos fundamentais do Método de Descartes:

“1º) Jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.
2º) Dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quanto possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.
3º) Conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.
4º) Fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir.”

Fonte: DESCARTES, Renés. Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes: 2001. p. 23-4.






CURSO DE HISTÓRIA
ESR/SFC
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
 Prof. Leonardo Soares dos Santos

 CAMPOS DOS GOYTACAZES
2013



Texto 2: Marx e a metáfora da Estrutura e superestrutura.
“O resultado geral que se me ofereceu e, uma vez ganho, serviu de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado assim sucintamente: na produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem determinadas formas da consciência social. O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência. Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é apenas uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham até aí movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em grilhões das mesmas. Ocorre então uma época de revolução social. Com a transformação do fundamento econômico revoluciona-se, mais devagar ou mais depressa, toda a imensa superestrutura. Na consideração de tais revolucionamentos tem de se distinguir sempre entre o revolucionamento material nas condições económicas da produção, o qual é constatável rigorosamente como nas ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em suma, ideológicas, em que os homens ganham consciência deste conflito e o resolvem. Do mesmo modo que não se julga o que um indivíduo é pelo que ele imagina de si próprio, tão-pouco se pode julgar uma tal época de revolucionamento a partir da sua consciência, mas se tem, isso sim, de explicar esta consciência a partir das contradições da vida material, do conflito existente entre forças produtivas e relações de produção sociais. Uma formação social nunca decai antes de estarem desenvolvidas todas as forças produtivas para as quais é suficientemente ampla, e nunca surgem relações de produção novas e superiores antes de as condições materiais de existência das mesmas terem sido chocadas no seio da própria sociedade velha. Por isso a humanidade coloca sempre a si mesma apenas as tarefas que pode resolver, pois que, a uma consideração mais rigorosa, se achará sempre que a própria tarefa só aparece onde já existem, ou pelo menos estão no processo de se formar, as condições materiais da sua resolução. Nas suas grandes linhas, os modos de produção asiático, antigo, feudal e, modernamente, o burguês podem ser designados como épocas progressivas da formação económica e social. As relações de produção burguesas são a última forma antagónica do processo social da produção, antagónica não no sentido de antagonismo individual, mas de um antagonismo que decorre das condições sociais da vida dos indivíduos; mas as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para a resolução deste antagonismo. Com esta formação social encerra-se, por isso, a pré-história da sociedade humana.


Fonte: MARX, Karl. Para a crítica da economia política. Disponível em:  http://www.marxists.org/portugues/marx/1859/01/prefacio.htm. Acesso em: 20/09/2013.




Texto 3:  o ponto de partida da produção material da existência humana.
“A primeira premissa de toda a história humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos primeiro fato a constatar é, portanto, a organização física destes indivíduos e a relação que por isso existe com o resto da natureza. Não podemos entrar aqui, naturalmente, nem na constituição física dos próprios homens, nem nas condições naturais que os homens encontraram — as condições geológicas, hidrográficas, climáticas e outras. Toda a historiografia tem de partir destas bases naturais e da sua modificação ao longo da história pela ação dos homens.
O modo como os homens produzem os seus meios de vida depende, em primeiro lugar, da natureza dos próprios meios de vida encontrados e a reproduzir.”



Fonte: MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/ideologia-alema-oe/cap1.htm#i1.  Acesso em: 20/09/2013.





Texto 4:  uma noção ampliada de modo de produção.
“Este modo da produção não deve ser considerado no seu mero aspecto de reprodução da existência física dos indivíduos. Trata-se já, isso sim, de uma forma determinada da atividade destes indivíduos, de uma forma determinada de exprimirem a sua vida, de um determinado modo de vida dos mesmos. Como exprimem a sua vida, assim os indivíduos são. Aquilo que eles são coincide, portanto, com a sua produção, com o que produzem e também com o como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais da sua produção.
Esta produção só surge com o aumento da população. Ela própria pressupõe, por seu turno, um intercâmbio [Verkehr] dos indivíduos entre si. A forma deste intercâmbio é, por sua vez, condicionada pela produção.”





Fonte: MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/ideologia-alema-oe/cap1.htm#i1.  Acesso em: 20/09/2013.




Texto 5: a análise das conexões entre representação e estrutura social
“O fato é, portanto, este: o de determinados indivíduos, que trabalham produtivamente de determinado modo, entrarem em determinadas relações sociais e políticas. A observação empírica tem de mostrar, em cada um dos casos, empiricamente e sem qualquer mistificação e especulação, a conexão da estrutura social e política com a produção. A estrutura social e o Estado decorrem constantemente do processo de vida de determinados indivíduos; mas destes indivíduos não como eles poderão parecer na sua própria representação ou na de outros, mas como eles são realmente, ou seja, como agem, como produzem materialmente, como trabalham, portanto, em determinados limites, premissas e condições materiais que não dependem da sua vontade.
A produção das ideias, representações, da consciência está a princípio diretamente entrelaçada com a atividade material e o intercâmbio material dos homens, linguagem da vida real. O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens aparecem aqui ainda como refluxo direto do seu comportamento material. O mesmo se aplica à produção espiritual como ela se apresenta na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da metafísica, etc., de um povo. Os homens são os produtores das suas representações, ideias, etc., mas os homens reais, os homens que realizam [die wirklichen, wirkenden Menschen], tal como se encontram condicionados por um determinado desenvolvimento das suas forças produtivas e do intercâmbio que a estas corresponde até às suas formações mais avançadas. A consciência [das Bewusstsein], nunca pode ser outra coisa senão o ser consciente [das bewusste Sein], e o ser dos homens é o seu processo real de vida. Se em toda a ideologia os homens e as suas relações aparecem de cabeça para baixo como numa Camera obscura, é porque este fenômeno deriva do seu processo histórico de vida da mesma maneira que a inversão dos objetos na retina deriva do seu processo diretamente físico de vida.”

Fonte: MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/ideologia-alema-oe/cap1.htm#i1.  Acesso em: 20/09/2013.





Texto 6: a filosofia e os conceitos não são a-históricos, muito menos entidades extra-corpóreas que habitem o plano divino. São expressões de determinada época, fruto de um contexto bem determinado de relações sociais e históricas.
“Lá onde a especulação cessa, na vida real, começa, portanto, a ciência real, positiva, a representação da atividade prática, do processo de desenvolvimento prático dos homens. Cessam as frases sobre a consciência, o saber real tem de as substituir. Com a representação da realidade, a filosofia autônoma perde o seu meio de existência. Em seu lugar pode, quando muito, surgir uma súmula dos resultados mais gerais que é possível abstrair da consideração do desenvolvimento histórico. Estas abstrações não têm, separadas da história real, o menor valor. Só podem servir para facilitar a ordenação do material histórico, para indicar a sequência de cada um dos seus estratos. Mas não dão, de modo nenhum, como a filosofia, uma receita ou um esquema segundo o qual as épocas históricas possam ser ajeitadas ou ajustadas. A dificuldade começa pelo contrário, precisamente quando nos damos à consideração e ordenação do material, seja de uma época passada seja do presente, à representação real. A eliminação destas dificuldades está condicionada por premissas que de modo nenhum podem ser aqui dadas, e que só resultarão claras do estudo do processo real da vida e da ação dos indivíduos de cada época. Vamos escolher aqui algumas destas abstrações, que utilizamos em contraposição à ideologia, e vamos explicá-las com exemplos históricos.”
Fonte: MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/ideologia-alema-oe/cap1.htm#i1.  Acesso em: 20/09/2013.




Texto 7: o conceito de fetiche. Um dos nexos entre representação e realidade.
 “VIMOS como o capital produz, como ele mesmo é produzido, e como, na qualidade de relação transmutada na essência, resulta do processo de produção, nele se desenvolve. De um lado, transforma o modo de produção; do outro, essa forma transmutada do modo de produção e estádio particular do desenvolvimento das forças produtivas materiais são o fundamento e condição - o pressuposto da própria formação do capital.
Uma vez que o trabalho vivo - com a troca entre capital e trabalhador - se incorpora ao capital e aparece como atividade a este pertencente desde o início do processo de trabalho, todas as forças produtivas do trabalho social passam a desempenhar o papel de forças produtivas do capital, do mesmo modo que a forma social geral do trabalho aparece no dinheiro como propriedade de uma coisa. Assim, a força produtiva do trabalho social e suas formas particulares se apresentam então na qualidade de forças produtivas e formas do capital, do trabalho materializado, das condições materiais (objetivas) do trabalho - as quais, nessa forma independente, em face do trabalho vivo, se personificam no capitalista. Eis aí, mais uma vez, a relação pervertida, que, ao tratar do dinheiro, chamamos de fetichismo.”

Fonte: MARX, Karl. Produtividade do Capital, Trabalho Produtivo e Improdutivo. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1863/mes/prodcapital.htm. Acesso em: 20/09/2013.







Texto 8: o cerne de um sistema de domínio não está no arbítrio de quem detêm o poder e sim nas relações de poder que possibilitam tal dominação.

“Por que a vontade do capitalista norte-americano difere da do capitalista inglês? E para responder a esta questão, não teriam outro remédio senão ir além dos domínios da vontade. É possível que venha um padre dizer-me que Deus quer na França uma coisa e na Inglaterra outra. E se o convido a explicar esta dualidade de vontade, ele poderá ter a impudência de responder que está nos desígnios de Deus ter uma vontade em França e outra na Inglaterra. Mas nosso amigo Weston será, com certeza,a última pessoa a converter em argumento esta negação completa de todo raciocínio.
Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites.” 

Fonte: MARX, Karl. Salário, Preço e lucro. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1863/mes/prodcapital.htm. Acesso em: 20/09/2013.



 

Texto 9: a definição de tipo ideal.

“Um conceito ideal é normalmente uma simplificação e generalização da realidade. Partindo desse modelo, é possível analisar diversos fatos reais como desvios do ideal: Tais construções (...) permitem-nos ver se, em traços particulares ou em seu caráter total, os fenômenos se aproximam de uma de nossas construções, determinar o grau de aproximação do fenômeno histórico e o tipo construído teoricamente. Sob esse aspecto, a construção é simplesmente um recurso técnico que facilita uma disposição e terminologia mais lúcidas.”

Fonte: Weber, Max. A “objetividade” do conhecimento das ciências sociais; tradução de Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 2006.






Texto 10: as noções de ação social e causalidade.

“Para a consideração científica que se ocupa com a construção de tipos, todas as conexões de sentido irracionais do comportamento afetivamente condicionadas e que influem sobre a ação são investigadas e expostas, de mais clara, como “desvios” de um curso construído dessa ação, no qual ela é orientada de maneira puramente racional pelo seu fim (...) [para aquela consideração] é conveniente verificar primeiro como se teria desenrolado a ação caso se tivesse conhecimento de todas as circunstâncias e de todas as intenções dos protagonistas e a escolha dos meios ocorresse de maneira estritamente racional orientada pelo seu fim, conforme a experiência que consideramos válida. Somente esse procedimento possibilitará a imputação causal dos desvios às irracionalidades que os condicionam.”

Fonte: Weber, Max. Economia e Sociedade: fundamentos de sociologia compreensiva. Volume 1; tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; revisão técnica de Gabriel Cohn. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília: São Paulo, 2000.





Texto 11: a centralidade do indivíduo na análise weberiana.
"não são, naturalmente, mesmo quando apresentam uma 'evidência' muito grande, mais do que meras hipóteses para uma imputação causal. Faz-se necessário, portanto, uma verificação na qual se emprega os mesmos meios como em qualquer outra hipótese. Elas valem para nós como hipóteses utilizáveis enquanto vemos uma 'possibilidade', que é muito diferente de caso para caso, de poder supor que existam cadeias de motivações 'providas de sentido.
[...] exatamente por esta razão, nesta maneira de ver, o indivíduo constitui o limite e o único portador de um comportamento provido de sentido". 
Fonte: WEBER, Max. A Ciência como vocaçãoIn: WRIGHT MILLS, C. E GERTH, H.H. Org. Ensaios de Sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982.







Texto 11: a historicidade dos conceitos e das idéias

“Ora, os costumes e as idéias que determinaram esse tipo, não fomos nós, individualmente, que os fizemos. São produto da vida em comum e exprimem suas necessidades. São mesmo, na sua maior parte, obra das gerações passadas. Todo o passado da humanidade contribuiu para estabelecer esse conjunto de princípios  que dirigem a educação de hoje; toda nossa história aí deixou traços, como também o deixou a história dos povos que nos precederam. Da mesma forma, os organismos superiores trazem em si como que um eco de toda a evolução biológica de que são o resultado. Quando se estuda historicamente a maneira pela qual se formaram e se desenvolveram os sistemas de educação, percebe-se que eles dependem da religião, da organização política, do grau de desenvolvimento das ciências, do estado das indústrias, etc. Separados de todas essas causas históricas, tornam-se incompreensíveis. Como, então poderá um indivíduo pretender reconstruir, pelo esforço único de sua reflexão, aquilo que não do pensamento individual? Ele não se encontra em face de uma tabula rasa, sobre a qual poderia edificar o que quisesse, mas diante de realidades que não podem ser criadas, destruídas ou transformadas à vontade. Não podemos agir sobre elas senão na medida em que aprendemos a conhecê-las, se não nos metermos a estudá-las, pela observação, como o físico estuda a matéria inanimada, e o biologista, os corpos vivos”.

Fonte: DURKHEIM, Émile. Educação como processo socializador: função homogeneizadora e função diferenciadora. Disponível em: http://www.gutierrez.pro.br/cdpead/pead/textos/durkheim.pdf. Acesso em: 21 de outubro de 2013.






Texto 12: método e fato social.

 

“Em face das doutrinas práticas, nosso método permite e requer a mesma independência. A sociologia, assim entendida, não será nem individualista, nem comunista, nem socialista, no sentido que se dá vulgarmente a essas palavras. Por princípio, irá ignorar essas teorias, às quais não poderia reconhecer valor científico, já que elas tendem diretamente, não a exprimir os fatos, mas a reformá-los. Pelo menos, se se interessa por elas, é somente na medida em que as vê como fatos sociais capazes de ajudá-la a compreender a realidade social, ao manifestarem as necessidades que movem a sociedade. Isso não quer dizer, porém, que a sociologia deva se desinteressar das questões práticas. Pôde-se ver, ao contrário, que nossa preocupação constante era orientá-la de maneira que pudesse alcançar resultados práticos. Ela depara necessariamente com esses problemas ao término de suas pesquisas. Mas, exatamente por só se apresentarem a ela nesse momento e por decorrerem portanto dos fatos e não das paixões, pode-se prever que tais problemas devam se colocar para o sociólogo em termos muito diferentes do que para a multidão, e que as soluções, aliás parciais, que ele é capaz de propor.não poderiam coincidir exatamente com nenhuma daquelas nas quais se detêm os partidos. O papel da sociologia, desse ponto de vista, deve justamente consistir em nos libertar de todos os partidos, não tanto por opor uma doutrina às doutrinas, e sim por fazer os espíritos assumirem, diante de tais questões, uma atitude especial que somente a ciência pode proporcionar pelo contato direto com as coisas: Com efeito, somente ela pode ensinar a tratar com respeito, mas sem fetichismo, as instituições históricas sejam elas quais forem, fazendo-nos perceber o que elas, têm ao mesmo tempo de necessário e de provisório, sua força de resistência ê sua infinita variabilidade.

Em segundo lugar, nosso método é objetivo. Ele é inteiramente dominado pela idéia de que os fatos sociais são coisas e como tais devem ser tratados. Certamente, esse princípio se encontra, sob forma um pouco diferente, na base das doutrinas de Comte e de Spencer. Mas esses grandes pensadores deram muito mais sua fórmula teórica do que o puseram em prática. Para que ela não permanecesse letra morta, não bastava promulgá-la; era preciso torná-la a base de toda uma disciplina que se apoderasse do cientista no momento em que ele abordasse o objeto de suas pesquisas e que o acompanhasse em todos os seus passos. Foi a instituir essa disciplina que nos dedicamos. Mostramos como o sociólogo deveria afastar as noções antecipadas que possuía dos fatos, a fim de colocar-se diante dos fatos mesmos; como deveria atingi-los por seus caracteres mais objetivos; como deveria requerer deles próprios o meio de classificá-los em saudáveis e em mórbidos; como, enfim, deveria seguir o mesmo princípio tanto nas explicações que tentava quanto na maneira pela qual provava essas explicações. Pois, quando se tem o sentimento de estar em presença de coisas, nem sequer se pensa mais em explicá-las por cálculos utilitários ou por raciocínios de qualquer espécie. Compreende-se muito bem a distância que há entre tais causas e tais efeitos. Uma coisa é uma força que não pode ser engendrada senão por outra força. Buscam-se então, para explicar os fatos sociais, energias capazes de produzi-los. As explicações não apenas são outras, como são demonstradas de outro modo, ou melhor, é somente então que se sente a necessidade de demonstrá-las. Se os fenômenos sociológicos forem apenas sistemas de idéias objetivas, explicá-los é repensá-los em sua ordem lógica e essa explicação é sua própria prova; quando muito será o caso de confirmá-la por alguns exemplos. Ao contrário, somente experiências metódicas são capazes de arrancar das coisas seu segredo.”


Fonte: DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Disponível em:







segunda-feira, 28 de outubro de 2013



"O que o Royal faz com os Beagles, o time do Vasco faz com a bola!"
                                                         Jenivaldo


sábado, 26 de outubro de 2013



CURSO DE HISTÓRIA
ESR/SFC
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE



Prof. Leonardo Soares dos Santos

 CAMPOS DOS GOYTACAZES

2013



Pessoal, tomei a liberdade (e profunda petulância) de seguir o modelo "oferecido" pelo professor Marcos Alvito, e elaborei esta Apostila para o curso de Métodos e Técnicas de Pesquisa em História; curso este ministrado na UFF de Campos dos Goytacazes.
Espero que as reflexões e indicações ali contidas sejam úteis a quem se dispuser a lê-la.

A reprodução, cópia e difusão do material é mais do que livre.

http://www.academia.edu/4894934/Apostila_do_curso_de_Metodos_e_Tecnicas_de_Pesquisa_em_Historia

quinta-feira, 17 de outubro de 2013



"É muito bom ver o Vasco apanhar!
É tão gostoso que devia virar Lei...."
                                                           Maria da Penha

segunda-feira, 14 de outubro de 2013







Discutir sobre futebol implica entrar num terreno tão pantanoso e insalubre para a nossa saúde mental, por menor que ela seja, que penso que seja mais sensato e tranqüilo discutir coisas como religião, guerra e a qualidade do Axé Music. A tal empreitada seria muito menos arriscada.

Mas num país como o Brasil até as questões mais óbvias são contestadas. Estamos num país onde a clareza e a simplicidade são motivos de repulsa, onde ser direto e lógico é comprar briga com um monte de gente. Onde até o resultado de 2 + 2 é capaz de suscitar controvérsias, querelas, quando não de pedir ajuda aos "universitários"...

Escrevo toda essa introdução para tocar num ponto que me parece inacreditável e que ainda teima em botar a cara no cenário público desse país, em especial na sua crônica esportiva.

Como se não bastasse a indigência de nosso campeonato brasileiro, ou melhor dizendo, o futebol (sic) apresentado pelas agremiações nos relvados nacionais, alguns agentes ainda perdem tempo discutindo sobre a pertinência do que eles chamam “fórmula de disputa do campeonato”. Nem vou entrar no mérito de tal expressão, mas na patologia evidenciada por uma tentativa tão bizarra e inescrupulosa em desviar o foco e tratar de uma questão que em nada colabora para a solução do esporte no país e – pior! – ainda expondo nossos neurônios a um espetáculo tão crasso de boçalidade gratuita.

É lamentável, mas ainda temos de ouvir: “ – O campeonato está chato porque o Cruzeiro disparou e isso é culpa de um campeonato de pontos corridos”.

Abrindo um parênteses: você, caro leitor, acha que a atrocidade, o desrespeito, a truculência contra a lógica e o bom senso acabou? Não nã ni nã não.... Tem mais. Mas vou aliviar, se vocês não confiam tanto no seu estômago pule as próximas 7 (sete)  linhas. Ok?

Bom, para os mais fortes, vamos lá. Outras afirmações do bestiário esportivo:
“ - O pontos-corridos(sic) não traz emoção, ao contrário do mata-mata.”
“ – A fórmula de pontos corridos só interessa à televisão e à CBF, mas não ao torcedor. Ele não quer saber de pontos-corridos!”
“ – A fórmula do pontos corridos(sic) é ultrapassada, chata, causa distorções. Se um time disparar, perde a graça. Ninguém mais sai de casa. Acaba todo o interesse. Isso não acontece com o mata-mata”.

Ufa, chega!
Não vamos tentar encontrar uma lógica em tanto disparate. Basta que confrontemos a esse emaranhado de frases sem sentido e sem base alguma na realidade (a não ser numa mente ocupada por um miolo mole), umas poucas e singelas indagações.

Por que será que os países do mundo inteiro – exceto o Brasil – insistem em realizar seus respectivos campeonatos nacionais sob a fórmula de pontos corridos? Como eles conseguem realizar campeonatos mais atrativos e com maior média de público do que a fabulosa(risos) e emocionante(rindo alto) Copa do Brasil ou os campeonatos estaduais, quase todos disputados em regime de mata-mata, em sua totalidade (o primeiro) ou na fase final (os segundos)?

Mas a brilhante e brava mente que defende os mata-matas deveria replicar: Ah, os ingleses, alemães, espanhóis e mexicanos abarrotam seus estádios porque adoram, são fanáticos, morrem de tesão por campeonatos insossos, modorrentos, murrinhas, chatos e sem nenhuma emoção. Por que países tão desenvolvidos – ao contrário do Brasil – praticam essa fórmula a mais de 100 anos, com sucesso e popularidade crescentes? Por que eles insistem com algo tão chato, que provoca tanto prejuízo? E que mistério explica o fenômeno de milhões de pessoas saírem de suas casas rumo a estádios para ver jogos tão chatos e sem emoção? Por que o Brasil é o único inteligente nessa história? E por que a sua inteligência causa tanto prejuízo?

Ué, e os campeonatos de mata-mata no Brasil, por que vivem com estádios às moscas? Por que os campeonatos do Amazonas, Brasília e Mato Grosso têm uma média de menos de 800 pagantes? Por que mesmo em grandes centros como Rio e São Paulo temos estádios desertos, com 100, 200 pagantes ou nem isso? Ah, por que os brasileiros não gostam de campeonatos com muita emoção?

Veja a que absurdo somo levados a argumentar se levássemos uma vírgula a sério de quem defende uma loucura dessas. É impressionante que uma mente como essa possa brincar assim com a nossa inteligência. Pior: é realmente inacreditável que elas tenham a oportunidade de ter um microfone e sair berrando isso aos quatro ventos, com total impunidade.

Outra conseqüência dessa argumentação: o Cruzeiro dispara na liderança, e vários times tradicionais se encontram em situação para lá de vexatória na parte debaixo da tabela por conta da fórmula de disputa.

Cuma? É isso mesmo minha gente. É isso o que vocês acabaram de ler. Vocês podem estar se perguntando: quem é louco de imaginar algo tão grotesco assim? Respondo: num país como o nosso, uma mentalidade dessa consegue ser formador de opinião. Aqui nesse país, tudo é possível. Inclusive algo pior do que nada. Vejam que a péssima campanha de uns e a grande irregularidade de outros não se deve a péssimas condições de estrutura, às criminosas e calhordas administrações que devastaram com muitos dos clubes, às vendas de jogadores no meio do campeonato, ao calendário desumano que esfalfa com os jogadores, à falta de profissionalismo, ao amadorismo crônico e patológico dos cartolas e managers; não!, tudo isso se deve a um outro fator.

As inúmeras partidas e jogos de péssima qualidade, de uma indigência técnica de causar pavor até em cego não se deve a jogadores abaixo da crítica, a precária (de)formação desses boleiros na base dos times, à falta de estádios e centros de treinamento (algo que dá nojo à muita mente brilhante nessa terra...) ou às estratosféricas dívidas dos clubes. Então, quem é o culpado? Hein hein hein hein hein????

Tudo isso é culpa dos PONTOS CORRIDOS!

Para sorte desse tipo de mentalidade, a defesa do mata-mata não constitui atentado ao pudor e nem a dignidade humana. Mas bem que merecia...





Leonardo Soares é historiador e professor da UFF.

domingo, 13 de outubro de 2013



"O Vasco consegue apanhar mais que professor da rede pública do Rio de Janeiro!!"
                          Zé

quinta-feira, 10 de outubro de 2013





O Grupo de Estudos Agroambientais
Convida
Primeiro Seminário de História Agroambiental
Dias 18 e 19 de março de 2014
Local: UFF – Campus de Gragoatá

O grupo de história agroambiental reúne professores e pesquisadores de várias universidades do Brasil e de outros países da América Latina preocupados com os temas clássicos da história agrária como a questão fundiária, o acesso à terra e aos recursos naturais, o trabalho e o trabalhador rural, as políticas públicas agrárias, os movimentos sociais rurais e a questão social no campo. Os integrantes entendem que, sobretudo, no tempo presente essas temáticas estão atravessadas pela questão socioambiental e as demandas atreladas a esta. Além disso, embora o grupo enfoque prioritariamente questões relativas ao caso brasileiro, tem grande interesse em pesquisas que se debrucem sobre contextos e conjunturas de outros países da América Latina. Se a proximidade geográfica é um tentador motivo para pesquisas comparativas, as peculiaridades e as distintas formas de configuração da questão agrária no continente são mais ainda.
Eixos temáticos[1]:
1.      Movimentos sociais
2.      Terra, território, propriedade.
3.      Políticas Públicas.
4.      Memória.
5.      Questão agroambiental.
Envio de resumos até 14 de dezembro de 2013.
Endereço para a recepção de resumos seminarioagroambiental@gmail.com
Os resumos devem ter entre 20 e 30 linhas e inscrever-se em algumas dos eixos temáticos listados acima. O mesmo deve incluir o nome do autor e filiação institucional.




[1] Outros temas serão avaliados oportunamente

domingo, 29 de setembro de 2013


"O Botafogo é maior cavalo paraguaio nascido fora do Paraguai!
Ou seja, até nisso ele engana...."
Totonho      

sábado, 28 de setembro de 2013










É incrível o que se passa no cérebro (!) do Guilherme Fiúza - o queridinho da Narcisa Tamborideguy – que bate ponto numa revista e jornal para babar e espumar de raiva contra os governos petistas. Como se os governos petistas tivessem inventado a corrupção no Brasil (vejam meus senhores e senhoras, o PT teve o mérito de inventar “A” Corrupção num país como o Brasil no século XXI, isso mesmo, nessa mesma terra de Vera Cruz avistada por grumetes portugueses em 1500. Então, é isso, esse mesmo país na visão desse camarada (êpa) veio a conhecer a corrupção em 2003. É mole ou vocês querem mais???....), como se os petistas encastelados no poder tivessem miraculosamente inventado um Estado grande, ineficiente; um sistema político clientelista; que tivesse engendrado mecanismos como familismo, garantismo, compadrio, nepotismo.

E esse satânico partido foi, entre tantos outros crimes, capaz de roubar o Brasil. Roubar não apenas no sentido vulgar que equivale ao ato de meter a mão no dinheiro público – não se assustem caros e caras, o sujeito é tosco mesmo... – mas meter o país, seu povo, seus poderes, seus símbolos, sua história, o pré-sal e até o STF no bolso. Num bolso qualquer de um paletó, quiçá numa cueca.

Mais impressionante ainda é como ele caracteriza a subida ao poder desse partido: fazendo política? Ganhando eleições, reconhecidamente limpas, com ampla maioria, de maneira incontestável, com candidatos eleitos e reeleitos? Não!, não e não. Conseguiu através de golpes. Mas como? Com golpes através de eleições. Peraí, vamos lá: vocês entenderam alguma coisa???? Eu confesso que também não, mas por um estranho fascínio por coisas mórbidas e bizarras eu topo o desafio de dissecar mais um pouco a grotesca e fantástica mentalidade expressa na última reflexão(sic) do Sr. Guilherme Tamborydegui. Mas só mais um pouquinho, até aonde o meu estômago agüentar.

É realmente impressionante a perspectiva histórica do Sr. Fiúza. Uma perspectiva cuja riqueza, amplitude e profundidade não deve em nada a qualquer poste da esquina. Num texto intitulado, quase que em termo s autobiográficos,  “A Primavera burra”, o dublê de jornalista e escritor (recentemente escreveu com grande senso de oportunidade uma biografia do Reinaldo Gianecchini, logo após esse ter se recuperado de um câncer...) continua descascando o governo petista e desfere, como se tornou comum nos últimos três meses, petardos contra as manifestações de rua que varreram o país.

A aceitação dos embargos infringentes pelo decano Celso de Mello (um “golpe vexaminoso”) e o silêncio que se seguiu por parte da turba que gritava contra os 20 centavos dos ônibus serve para essa criatura acusar a massa que luta contra tudo (e tudo, segundo uma equação parida pelos dois neurônios da sua mente baldia, “é igual a nada”) reclamar da seletividade da indignação popular.

Fiúza não gosta da massa. Principalmente se ela comete a ousadia e insanidade de cobrar o cumprimento de direitos básicos, expressos inclusive na Carta constitucional. Mas concede a ela uma exceção: contra mensaleiros pode protestar. Ou seja, contra o PT.
A zombaria do STF contra o país inteiro, aliviando os maiores assaltantes da história da República, cujo grupo político por acaso governa o Brasil, é a causa das causas. É para cercar os palácios da Justiça Federal em todo o território, é para, aí sim, parar tudo e avisar que isso aqui não é a casa da mãe Dilma e de seus companheiros parasitários.

 Mas o que se viu? Relata desolado o histriônico anti-petista e anti-povo:
Os bravos manifestantes da Primavera Brasileira de 2013 assistiram ao novo assalto, como diria Anitta, ba-ban-do.

Mas, ora, seletividade é um direito que cabe a qualquer cidadão. Menos quando o assunto é Justiça, cumprimento da lei, julgamento de ilícitos, condenação de bandidos. Quanto a isso não pode haver diferença de tratamento, dois pesos e duas medidas. Não, isso nunca. Mas a seletividade no sentido de optar por uma ou outra pauta, isso é um direito inalienável de qualquer um.

Por que se isso fosse colocado em questão, teríamos que começar a questionar o próprio Narciso Fiúza. Sim, vejamos:

Onde estava a indignação do Bravo Fiúza durante o escândalo da compra de reeleição?





Onde estava a valorosa e genuína indignação de Gui quando dos escândalos da Privataria tucana? O maior escândalo da República, o maior de toda sua história, onde ele estava?

O que escreveu Guilherme sobre o mensalão mineiro?

O que Guilherme sentiu quando viu Marco Aurélio e Gilmar Mendes concederem habeas corpus para Cacciola, Daniel Dantas e a funcionária que sumiu com o processo em que a Globo foi finalmente condenada a pagar à Receita Federal uma multa que dá para encher uma penca de carros-fortes?

Onde estava Guilherme, furioso na sua crítica à sangria de dinheiro público, á ação das ONGs piratas, à boquinha do Ministério do Trabalho etc etc, para falar dessa sonegação global? Onde estava o Sr. Tamborindegui para chorar por essa dinheirama que poderia (mas não foi) ter sido investida numa escola, num hospital, no concerto de uma ponte, no melhoramento de uma estrada, na melhoria dos salários de professores, médicos, policiais e demais servidores públicos, ou ao menos a compra de gazes, esparadrapo e fraudas geriátricas? Onde estava você e sua fúria elitista Guilherme, onde?

Onde estava com essa cabeça e seus parcos neurônios em funcionamento quando estourou o escândalo do cartel do metrô de São Paulo? Onde estava você para falar do mundo real, onde empresas se organizam em verdadeiras quadrilhas para subornar governos, com o fito de prestar serviços de péssima qualidade e não serem punidas com isso e ainda ganharem rios e cachoeiras (êpa) de dinheiro, lucrando com a humilhação cotidiana de trabalhadores, estudantes e aposentados paulistanos, cuspindo assim na própria cidadania dessas pessoas, vilipendiando o seu próprio direito de ir e vir (com conforto e segurança – aliás, um direito que ele tanta preza, ou finge prezar...)? Onde você estava numa hora dessas Fiúza, onde você estava num momento em que as empresas mostram ao que vieram: destruir a saúde e dignidade dos cidadão brasileiros, sequestrando para isso os governos? Onde você estava? Estava se escondendo no Intestino Milênio, aquele sustentado por empresas e que alardeia que os governos e o Estado são obras de Satanás??? Ou estava com seu colega de Intestino, o Merval e o FHC tomando chazinho bem longe dos pobres lá na Academia dos Imortais (que já morreram há muito tempo...)? Celebrando os oito anos de desmonte de um país....





Onde estava o seu ódio com uma justiça que - segundo ele - não funciona e é aparelhada pelo PT quando a Procuradoria da República engavetou todos os processos envolvendo tucanos? Onde ele, sua indignação e os seus relapsos neurônios estavam quando o governo do Príncipe da Privataria engavetou processos contra as privatizações e mandou sepultar CPIs para investigá-lo?



Onde está a sua calculadora para contabilizar o volume de dinheiro envolvido nos escândalos de oito anos de desgoverno tucano? Volume este que comprova o que foi o maior assalto da história desta República. Onde está a sua tabuada? Ou o seu apreço pela matemática é o mesmo da Narcisa? Se isso for: Ai, que loucura!

Mas o que é pior é a insistência do colonista em desqualificar os manifestantes e suas ações de protesto. Segundo ele o civismo desses consiste em “quebrar vidraças”, esculhambar o trânsito a qualquer hora do dia, ameaçar e “rosnar” contra artistas de cinema, promover uma “Primavera burra” e outros impropérios. Ou seja, os manifestantes são caracterizados como animais, psicopatas, selvagens, terroristas, bandidos, delinquentes, vadios. Mais um pouco e tenho a impressão que o colonista começará a defender o uso não de spray de pimenta (sendo o uso dele ridicularizado por ele também, como uma coisa boba), mas da chibata e do tronco mesmo.

Mas toda essa gente busca, a partir de meios e formas várias, muitas limitadas certamente, mudar esse país. Querem governos mais eficientes, o que equivale a dizer principalmente: servir ao interesse público e não à delinquência das empresas da iniciativa privada que sequestraram o Estado brasileiro.


É disso que se trata. E isso é assunto da sociologia, da ciência política e da história. Mas a ideologia de alguém que condena e criminaliza tudo isso já é uma outra questão: é caso para inspeção sanitária, em especial a que cuida de mentalidades infectas e com alto teor fecal.