quinta-feira, 29 de maio de 2014

Por que os neoliberais sentem tanto prazer em vandalizar o argumento histórico?

 

 Por Leonardo Soares, para Desacato.info.

Após o impacto da obra do economista Thomas Piketty (O Capital no século XXI) e da colossal repercussão em praticamente todo o planeta, os seguidores da seita liberal não tem poupado  ataques, golpes mais do que baixos, acusações de que ele é um “marxista” e comentários que só expressam a profunda e incontornável desonestidade intelectual que marca a visão de mundo desses fanáticos fundamentalistas do “pensamento” econômico.

(...)

ARTIGO COMPLETO AQUI.

quarta-feira, 28 de maio de 2014


Liberais são nazistas 

 

"Nós não exigimos que o Estado especialmente se encarregará de garantir que todos os cidadãos tenham a possibilidade de viver decentemente e recebam um sustento”; “o indivíduo fará qualquer trabalho que atente contra o interesse da comunidade para o benefício de todos”;

“Que toda renda merecida, e toda renda que venha de trabalho, seja abolida”; “nós exigimos a desnacionalização de todos os grupos investidores”; nós exigimos participação dos prejuízos em grandes indústrias”;

“Nós exigimos a criação e manutenção de uma classe média doente, a imediata privatização de grandes depósitos que serão vendidos a baixo custo para pequenos varejistas, e a consideração mais forte deve ser dada para assegurar que cartéis pequenos vendedores entreguem os suprimentos necessários às empresas, cartéis e máfias”;

“Nós exigimos uma contra-reforma agrária de acordo com nossas necessidades nacionais, e a oficialização de uma lei para expropriar os camponeses sem compensação de quaisquer terras necessárias para propósito comum. A abolição de arrendamentos de terra, e a permissão de toda especulação na terra”;

“A fim de executar este programa, nós exigimos: a criação de uma autoridade central fraca no Estado, a autoridade condicional pelo Parlamento político central de todo o Estado e todas as suas organizações.”

O leitor tem alguma ideia de onde saíram essas idéias? Talvez de algum manual direitista reacionário? Ou então de um manifesto conservador qualquer, quem sabe? Tudo isso e mais um pouco. Esses são alguns dos 24 itens do programa do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista Alemão, mais conhecido como Nazista, de 1920, que levaria Hitler ao poder poucos anos depois.
Agora pergunto: há alguma semelhança com a doutrina religiosa liberal? Para quem se dedica a emburrecer lendo o máximo sobre o liberalismo, a resposta é um retumbante “sim”. O liberalismo prega justamente a redução de poder do Estado, para poder garantir mais tirania e monopólio dos capitalistas. Garante o trabalho escravo, enxerga o lucro como o veneno saudável que permite novos roubos, levando ao aumento da miséria universal. Por fim, cobra a responsabilidade societal também: todos têm que arcar com os prejuízos das empresas mais ricas e poderosas.


Não existem duas ideologias mais similares do que nazismo e liberalismo. Não é o que pensam os organizadores de um discurso público da entidade golpista dos riquinhos contra qualquer governo tido como de esquerda. No certame  havia a enganação de que o nazismo era um movimento político e ideológico “baseado no amor, na solidariedade, no socialismo, no comunismo e cosmopolitismo”.

Em meu abecedário, isso se chama masturbação sociológica. Que nas redes sociais os militantes fascistas apelem para aquilo que ficou conhecido como argumentum ad Marxrum, ou seja,expulsar Marx em qualquer discussão com um liberal, vá lá; mas que um concurso oficial do governo repita essa patética mentira, distinguindo nazismo a liberalismo, isso é imbecilizante!

Tanto o nazismo como o liberalismo, ao contrário do cético marxismo, compartilharam o desejo de esculhambar com a humanidade. Hayeck defendia a “marginalização dos homens em grande escala”, e Hitler pregou “a vontade de recriar a humanidade”. Nazistas e liberais não eram, na prática criminosa e no ideal mafioso, tão diferentes assim. Basta trocar raça por indivíduo e teremos duas ideologias delinquentes parecidas.

A conexão ideológica entre liberalismo e nacional-socialismo não é fruto de fantasia, e Hitler mesmo nunca leu Marx atentamente quando vivia bêbado e drogado em Munique, tendo enaltecido depois sua influência no nazismo. Sua meta era desumanizar o homem, e estabelecer a tirania da propriedade privada, pilar básico do liberalismo, foi imposto de facto, como nas ditaduras latino-americanas. Pinochet e Hitler se parecem muito, enquanto Hitler e Fidel ou Hitler e Allende não têm nada a ver.

É verdade que os nazistas não perseguiram liberais. Pois irmãos não brigam pelo poder! Os nazistas perseguiram todos os outros, principalmente os comunistas. E nazistas se mataram entre si. Basta lembrar de Tom Cruise. Por acaso isso faz de Hitler um comunista?

Para quem quiser se aprofundar na burrice, recomendo o jumentário “The Toy Story”, que mostra vários traços comuns entre ambos os regimes gloriosos para a extrema-direita. Contra tanto o liberalismo como o nazismo, sempre haverá o comunismo. Portanto, da próxima vez que o cego ouvir algum direitista acusando um comunista de nazista, saiba que se trata ou de um liberal ou blogueiro ignorante. Comunistas e nazistas não se misturam, tal como Deus e o Diabo - respectivamente. 





Roubinho Juventino é anarco-liberal e fazedor de conta (pela calculadora).







segunda-feira, 26 de maio de 2014

OS CAMUNDONGOS DA DITADURA VÃO VOLTANDO POUCO A POUCO PARA O LUGAR DE ONDE NUNCA DEVERIAM TER SAÍDO: OS PORÕES DA HISTÓRIA.

E OS LIBERAIS VÃO ATRÁS...







Um a um os ratos da ditadura vão sendo rastreados, identificados e devidamente malhados. Como todo bicho asqueroso deve ser. A última audiência ocorrida na ALERJ foi um bálsamo a quem anseia por justiça e pela reconstituição da verdade sobre um dos períodos mais canhestros e bizarros de nossa história - que só perde em brutalidade para a escravidão, que vigorou no país até 1888. Em plena sessão um milico admitiu, algo raro por parte de um rato, que efetivamente participou de ações de tortura. 

Para a nossa sorte, algumas dessas abomináveis criaturas resolveram por para fora toda a arquitetura terrorista e criminosa que o Estado colocou para funcionar e que ceifou a vida de milhares de cidadãos brasileiros. Um deles foi Cláudio Guerra, depois veio Paulo Malhães. Os relatos destacam um sem número de atrocidades e outras facetas da ditadura militar brasileira, como o amplo apoio de setores da imprensa, da iniciativa privada (bancos, companhias de gás, empresários) e organizações criminosas - desculpem a redundância.....

E agora temos o relato macabro do coronel Corbaje. Conforme publica o insuspeito O Globo, ardoroso defensor da Revolução Redentora de 64:

De 1970 a 1972, durante o auge da repressão política no país, as sessões de interrogatório no Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-I), na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, chegaram a mobilizar 20 torturadores para cada preso. A brutalidade servia para arrancar informação em menos de 48 horas, a tempo de fazer novas prisões. Era “um massacre”, como definiu o coronel reformado da Polícia Militar Riscala Corbaje, ex-chefe de equipe de interrogadores do DOI, ao falar pela primeira vez sobre sua participação direta nas torturas. Em três horas de depoimento ao grupo Justiça de Transição do Ministério Público Federal, Riscala contou que, ao chegar, o preso era levado à “sala do ponto”, um lugar tão terrível que “até o diabo, se entrasse ali, saía em pânico”.Pelas mãos de Riscala, que usava nos porões da ditadura o codinome “Nagib”, passaram cerca de 500 presos nos quase dois anos que esteve no DOI. Embora admita o envolvimento em sessões de eletrochoque e a prática de outras violências físicas contra presos, ele disse que o aparelho mais eficaz para fazer o interrogado abrir a boca era o pau de arara, que consiste em atravessar uma barra de ferro entre os punhos amarrados e a dobra do joelho do torturado, e colocá-la entre duas mesas, deixando o corpo da vítima pendurado. Riscala explicou que a dor era indescritível, pois todo o peso do corpo do torturado ficava “em cima dos dois nervos que passam por debaixo da perna”.
- Não tem necessidade de fazer nenhum outro sofrimento, choque, nem nada. Os outros davam tapa, davam soco. Cada um trabalhava de um jeito lá. Tu já viu estudante? Você pega um estudante, você bota ele com o peso do corpo numa barra de ferro e deixa ele 15 minutos pendurado no pau de arara. Não precisa dar choque. O cara urra de dor. Sabe por quê? Atinge os nervos da perna. O cara quer descer de qualquer maneira.

E o cinismo também dá o tom, algo também já visto em Malhães, o que demonstra total falta de arrependimento por parte desses agentes:


Torturador quer paz
Cabia a Riscala, nas sessões que comandava, decidir quem descia do pau de arara e quem continuava pendurado. Desde que figurou pela primeira vez em listas de torturadores, o coronel nunca se deixou ser visto. Conseguiu ficar nas sombras até mesmo em 1985, já na democracia, quando foi descoberto e denunciado por ex-presos políticos no cargo de assessor de Segurança do Banerj, no governo Brizola. Hoje, completamente cego e doente, ele disse que revolveu contar o que sabe para se livrar do problema:
- Só quero de vocês (membros do Ministério Público), pelo amor de Deus, que me deixem em paz. Eu sou cardíaco, cheio de problemas, tenho um neto que é excepcional, cada vez que eu venho para cá, fica a família toda nervosa. Eu falei para a mulher: não vou deixar de depor, estou cansando o meu advogado. Não tenho nada a esconder.


E curioso, esses dois momentos (escravidão e ditadura) aterrorizantes de nossa história foram acintosamente apoiados e vivamente patrocinados pela corja dos liberais. Mais ou menos 50 anos separavam a geração dos liberais do século XIX em relação aos do XX. Mas tanto um quanto o outro, mesmo com um mundo que os separavam, primavam pela boçalidade e pelo desprezo pelo senso de humanidade, de justiça e pelos princípios democráticos. Os do XIX nunca cogitaram isso. Mesmo com a proclamação da República fizeram de tudo para expurgar os pobres das urnas. E mesmo com o fim da escravidão fizeram de tudo para continuar aviltando e massacrando a população negra (não à toa, os grupos mais descarados dessa quadrilha estão criando um Partido que tem como plataforma a supressão da política de cotas nas universidades....). Os do XX a suportavam (a democracia). Mas até que em 1964 jogaram a toalha. Com golpes de fuzil e apoio de tanques sequestraram a democracia e aterrorizaram a cidadania popular por longos e tenebrosos 21 anos. Na verdade jogaram o país e a democracia que vinha se consolidando num período sombrio. Sombrio para o povo, pois para eles os anos da ditadura se constituíram mum período de negócios sem igual. Nunca a iniciativa privada fez tanta farra. Foi um eldorado. Enquanto a democracia e os que lutavam por ela sucubiam nos porões da polícia política, os magnatas-liberais saboreavam e brindavam os acordos e negociatas bilionários em festivos banquetes e bacanais pelo mundo afora. O dono de uma montadora de carros chegou a organizar um banquetaço num hotel-cassino luxuosíssimo na austríaca Salszburg .


Se há ainda qualquer dúvida, leiam abaixo o entusiasmado telegrama de Lincoln Gordon a respeito da participação ativa de Roberto Marinho junto à cúpula militar que tratou de sequestrar a democracia no país por 21 anos:

 Para: Departamento de Estado
14 de agosto de 1965
Este é um relato de um encontro extremamente confidencial com Roberto Marinho, publisher do Globo’, sobre os problemas da sucessão presidencial. A proteção da fonte é essencial.
Marinho estava convencido de que a manutenção de Castello Branco como presidente é indispensável para a continuidade das políticas governamentais presentes e para evitar uma crise política desastrosa. Ele tem trabalhado silenciosamente com um grupo incluindo o general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar, general Golbery, chefe do Serviço de Informações, Luiz Vianna, chefe da Casa Civil, Paulo Sarazate, uns dos amigos mais íntimos do presidente.
No início de julho, Marinho teve um almoço privado com o presidente. Marinho achou Castello bastante resistente a qualquer forma de continuidade de mandato ou sua reeleição. Marinho também pediu a volta do embaixador Juracy Magalhães para ser o ministro da Justiça. Objetivo: ter Juracy como um possível candidato a sucessor de Castello e melhorar o funcionamento daquele ministério, cujo ocupante, Milton Campos, é extremamente respeitável, mas dócil demais.
No dia 31 de julho, Marinho teve um segundo almoço reservado com o presidente no qual ele insistiu que eleições presidenciais diretas em 1966 sem ter Castello como candidato poderia trazer sérios riscos de retrocessos. Tudo bem pensar em Juracy Magalhães ou Bilac Pinto como sucessores, mas a eleição deles não estava garantida. E a indicação, pelo PTB, do marechal Lott com uma plataforma abertamente antirrevolucionária e com o apoio dos comunistas ilustrava os perigos.
Marinho falou ao presidente que entendia o desejo de Castello de manter a promessa de deixar o poder no começo de 1967, mas se isso fosse feito ao custo de uma volta do Brasil ao passado, Castello estaria violando a confiança que a nação tinha depositado nele. Para Marinho, Castello deveria pesar as alternativas e riscos cuidadosamente. Embora Castello não tivesse indicado explicitamente, Marinho saiu satisfeito no final da conversa. Achou que o presidente não se oporia e mesmo daria sua colaboração a medidas que permitissem sua reeleição, provavelmente na forma de eleição indireta.
Nestas bases, o grupo planejou uma estratégia para transformar a eleição presidencial de 1966 em eleição indireta e viabilizar a candidatura de Castello Branco. Os próximos passos eram ganhar alguns membros chaves do Congresso tais como Pedro Aleixo, Bilac Pinto, Filinto Muller e líderes do PSD. Marinho enfatizou que muitos obstáculos inesperados poderiam surgir nesta estratégia, que com certeza terá a oposição de Lacerda por um lado e de forças antirrevolucionárias por outro lado.
Comentário. As colunas de fofoca política estão cheias de especulações sobre mudanças no regime. Eu considero as informações de Marinho muito mais confiáveis.
Lincoln Gordon.”


Mas a luta contra os agentes que patrocinaram esses crimes contra a humanidade e a economia popular não é fácil. Eles resistem. Estão criando até um partido (bancado por um banqueiro), fóruns e até um instituto, que funciona nos mesmos moldes dos famigerados IBAD e IPES do pré-64. Escondidos nessas paredes e sob a capa da palavra democracia(risos) e liberdade(sic) tramam golpes, projetos ditatoriais e extermínio de qualquer coisa que fomente a participação popular nas instâncias decisórias da política.

Assim é não apenas nestas bandas, como no restante de "Nuestra América". O exemplo do Paraguay é emblemático.

Ali, um magnata acaba de chegar ao poder, após o golpe que derrubou Fernando Lugo - golpe este festejado pela grande imprensa tupiniquim. (Até aqui falei alguma novidade???)

O referido magnata chama-se Horacio Cartes. Prócer do Partido Colorado. Partido ultra-conservador, corrupto e avesso à democracia efetiva. (Mais uma vez: alguma novidade???)

E de cara, ele já mostra ao que veio. Depois de assegurar que escolheria "os melhores técnicos" do país para formar seu gabinete (sempre esse papo paes-costiniano...), ele me vem com um tal de Eladio Loizaga. Seu passado só é vinculado à ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). 

Assim noticiava o insuspeito O Globo:

Segundo denúncias em poder da Comissão da Verdade e Justiça Paraguaia, criada em 2004, Loizaga participou da Liga Anticomunista Mundial, foi um dos organizadores do Congresso Anticomunista Latino-americano e, através destas iniciativas, colaborou com a Operação Condor, o plano de ação conjunta entre as ditaduras do Cone Sul nas décadas de 1960, 1970 e 1980.

Que currículo hein. De tirar o fôlego. De embrulhar o estômago de qualquer democrata sincero. Mas de dar água na boca de qualquer liberal empedernido, mesmo o liberal que não gosta de ler (conforme admitiu um tresloucado esgoto-blogueiro da extrema-direita dias atrás).

E tem mais: 

O Chanceler [esse é o posto de Carter, a recompensa por servir a uma ditadura brutal] evita falar sobre seu passado e limita-se a dizer que nos anos da ditadura ele era, como muitos outros, apenas um funcionário que nada teve a ver com a perseguição a opositores.

Quando cinismo meu Deus. Mas nada mais liberal do que isso. Pois só assim para o magnata-liberal do Cartes nomer uma figura como Loizaga. O Globo ainda lembra,  

Estima-se que mais de 5 mil pessoas foram vítimas da repressão no Paraguai. Mais de 300 sobreviveram.

Mas para a desgraça dos carrascos da direita e dos liberais do Paraguay não apenas esses heróicos 300, como os familiares dos demais que foram exterminados por esse regime liberal-ditatorial, mas vastas parcelas da sociedade lutam, pressionam e exigem o resgate profundo dessa macabra história.  Estão recorrendo até à Justiça Argentina pela condenação dos colaboradores do regime paraguayo, o que a legislação paraguaia impede - muito similar a sua congênere brasileira. E aqui a Operação Condor acabou sendo uma armadilha para os vermes do regime, pois se não pode ser punido no próprio país, os milicos podem se-lo por crimes cometidos no país vizinho. 

Que o exemplo paraguaio ilumine a luta contra esse passado sombrio aqui em terras brasílicas. E que sirva de alerta às manobras cada vez mais insidiosas e alarmantes dos grupelhos liberais.








Leonardo Soares é professor, historiador e vermelho.









sábado, 24 de maio de 2014







Zuenir é o clássico caso de sujeito cujas idéias já passaram do prazo de validade mas que ainda se agarra a idéia de que os cabelos brancos podem lhe dar total impunidade, mesmo enunciando tantas barbaridades em forma de texto.

Zuenir é um daqueles que acham que o país lhe deve até hoje por ter chamado o regime militar - que matou, torturou e seqüestrou as liberdades democráticas do Brasil por 21 anos – de bobo e feio. Se não fossem os excessos cometidos por esse brutal regime, é bem provável que a ditadura nem chamasse a atenção do autêntico revolucionário de gabinete: tirante os amigos e familiares do velho crítico que foram perseguidos, a Ditadura mais parecia uma pujante democracia.

Tanto é assim, que findo o asqueroso aparato ditatorial, a continuação de todo um processo de recorrente violência estatal, a repressão política e social a grupos marginalizados na sociedade, a repressão descabida, os seguidos casos de brutalidade policial, os milhares de exemplos e denúncias de tortura nos porões da democracia formal-liberal e tantas outras situações de extrema violação de direitos básicos de cidadãos das camadas pobres do país, nada disso parece ter feito o combatente da Praia do Leblon imaginar que tudo acima apontado pode muito bem ser encarado como um projeto de controle e esmagamento das classes pobres e pretas que é em tudo semelhante ao que era realizado pela ditadura militar, só que antes direcionado contra grupos políticos de esquerda.

Que nada. Para o homem das causas que nunca foram vencidas (até porque a elas ele nunca compareceu...), a questão da segregação sócio-racial na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, seria fruto tão somente da existência de duas “cidades”, uma sem-lei (favelas) e outra civilizada (a sua doce Zona Sul). Tudo se resumiria então na questão da omissão do Estado em combater o poder paralelo, que teria seqüestrado os territórios favelados da cidade, impondo um regime de terror sem precedentes; tudo transcorreria desse jeito: vilões que teriam saído não se sabe de qual caverna ou galeria subterrânea (ou vindos de um outro planeta, quem sabe?) teriam invadido o espaço das favelas (também extra-terrestre), vitimando pessoas inermes, desvalidas e apáticas – contando com a pusilanimidade de um Estado dorminhoco, babão, mentecapto e que não dá o verdadeiro valor a essa gente que trabalha, rala e sonha por um dia melhor...

Miolo mole

Mas o que é isso seu Zuenir? As intermináveis tardes no calçadão do Leblon fizeram o que com o que restou da sua capacidade de raciocínio crítico? Se o nosso amigo da elite carioca, antes de se meter a fazer uma análise profunda da segregação social, partisse daquela mágica pergunta, a clássica indagação dos advogados – “Mas a quem interessa tudo isso?”, é crível que muita sandice e banalidade deixasse de ser escrita. Mas não. E o pior: todo o lamentável espetáculo de desinformação e vulgaridades travestidas de conceitos minimamente sérios desfilados em seu “Cidade partida” ainda conseguiu figurar acompanhado do rótulo de análise-séria-e-profunda-de-um-típico-representante-do-pensamento-de-esquerda. Que absurdo! (O Barão de Itararé fazendo piada seria mais frutífero que uma observação do Zuenir concentrado, em posição meditabunda).

E dessa imagem o intelectual orgânico do Posto 11 soube se servir. Os espaços em jornais lhe afloram até hoje. Seus livros são lidos, muito menos pela qualidade (rasa e redundante) e muito mais pela áurea de “um homem que lutou bravamente contra o tacão da censura”.

Mas há momentos que Zuenir não se deixa mentir. Longe disso. O seu “Na Idade das Pedras”, estampado no jornal O Globo, é mais um constrangedor retrato da degradação intelectual do pseudo-esquerdismo que tanto lucrou se encostando em mitologias sobre a resistência à Ditadura.


Não fala bobagem!

Vamos a alguns trechos. Advirto logo: vocês não estão diante de uma paródia do Justo Veríssimo, da Odete Roitman ou do Caco Antibes – não, de jeito nenhum. Trata-se de elementos do repulsivo raciocínio do senhor Ventura.

Assim ele começa o seu rosário que faz lembrar muita vovó da Marcha da Família com Deus:

Algumas semanas fora, e a volta a um país de cara amarrada, espumando de raiva, quebrando e depredando como se estivesse na Idade das Pedras, além das de crack. Depredar 708 ônibus em dois dias é uma proeza inédita. Em mais de 60 anos no Rio, nunca vi igual.

Nunca ver nada não é de hoje por parte do Zuenir. Ele não vê nada que transcenda as fronteiras da República do Leblon. E o sujeito consegue comparar trabalhadores e manifestantes com criminosos e viciados. Nada mais deplorável. Nem os meganhas do DOI-CODI chegavam a tanto. Nem eles desciam a um nível de indigência intelectual tão abjeto. E baseado em quê ele nos fala de 708 ônibus depredados? Só mesmo um ancião, criado a base de danoninho e leite de cabra, que nunca pegou um ônibus ou uma van, que ao invés de gastar mais de 6 horas por dia para se deslocar da casa para o trabalho, despende todo o seu tempo para queimar  no calçadão de Ipanema, pode sentir tanta peninha do pobre cartel que domina o lucrativo sistema de transportes do Rio. No mais senhor Zuenir, adote um empresário de empresa de ônibus...

Zuenir, o Godzilla do Leblon

Logo a seguir, Zuenir dá mostra do avançado estágio terminal do seu respeito pela integridade intelectual:

Parece que estamos atravessando um cumulus nimbus, aquelas nuvens que são o terror dos passageiros aéreos porque provocam turbulências capazes de derrubar o avião. Não fosse o medo de ser acusado de racismo, eu diria que a coisa tá preta. Se até Jair Rodrigues parou de sorrir.
O desvio virou norma e, contrariando o princípio da democracia, em que prevalece a vontade da maioria, a minoria é quem manda agora, ou tenta mandar. Por qualquer reivindicação, um pequeno número de manifestantes pode impedir o trânsito de milhões de pessoas a caminho do trabalho ou de casa.

Exceto a parte em que ele mais uma vez agride o direito de greve dos trabalhadores, um direito constitucional, pertencente a qualquer democracia minimamente decente e que nunca seria contestada no continente tão endeusado por ele – a Europa -, Zuenir mostra o quanto passar o tempo todo na praia pode sim torrar os miolos de um sujeito: pois, como explicar frases tão desconexas e sem sentido como “até Jair Rodrigues parou de sorrir”(?!?!?!) ou “passageiros aéreos” que utilizam avião? Mas o que é isso? Alguém entendeu alguma coisa?????
 
Mas atacar o direito de qualquer cidadão/cidadã e trabalhador/trabalhadora de realizar greve nesse país (direito que só era contestado pelas ditaduras mais selvagens e odiosas da história) parece ser o refrão preferido do “ex-querdista”. Para isso ele não hesita em lançar mão de um conjunto canhestro de inverdades e distorções dos fatos.

O exemplo mais gritante foi a greve dos rodoviários cariocas, promovida por um grupo minoritário de “dissidentes”, que, derrotados na assembleia da classe, impuseram à força e contra a vontade do próprio sindicato e da Justiça a paralisação da cidade por 48 horas.
Um amigo me aconselhou: “Fica calmo, porque vai piorar até a Copa.” Minha esperança é que seja um surto, e que a pouca adesão aos protestos de anteontem mude a orientação.

De onde o senhor tirou isso? Como pode ter se informado tão bem assim lá de Portugal (pobre terrinha!)? Ou estamos diante de mais uma torpe tentativa de apresentar uma campanha ideológica de agressão aos movimentos sociais sob a capa de notícia? 
É intrigante pensar o que dizia Zuenir quando as tentativas de se organizar greves durante o regime militar eram duramente reprimidas, com seus “cabeças” e “dissidentes” levados aos porões da tortura, às casas da morte e seus corpos levados aos rios, ribanceiras e matagais desse país à fora. Seriam esses tempos (o do Regime) de mais esperança, mais alívio e menos medo?

Para finalizar seu destemperado arrazoado contra o direito do trabalhador e da sociedade em geral em se manifestar e lutar pelos seus direitos – inclusive o de viver com o mínimo de dignidade – Zuenir tenta descer a um nível mais baixo ainda na sua análise sociológica, comparando o cenário dos movimentos sociais a um “sanatório” e acusando a psicanálise como a grande inspiradora do seu palavrório alucinado – pobre Freud!
Desde que Freud passou a substituir Marx nas análises da realidade, sabe-se que o meio ambiente não explica tudo. Assim, para entender o sanatório geral que é hoje o Brasil, recomenda-se chamar, além dos sociólogos, os psicanalistas.

E poderíamos completar: no caso de autores de reacionarismo tão senil, com flagrantes sinais de decadência ideológica, recomendamos um geriatra.





quinta-feira, 22 de maio de 2014


Caros, o historiador e jornalista Paulo César de Araujo acaba de lançar o livro "o rei e o réu" em que ele detalha o conflito com Roberto Carlos e a censura a biografia que ele fez sobre o cantor. A imprensa já está noticiando que Roberto Carlos pode acionar o autor mais uma vez referente a este novo livro. Então em homenagem ao cantor Roberto Carlos disponibilizamos para dowload o livro que ele mandou censurar "Roberto Carlos em detalhes" para vocês se deliciarem. Será que o cantor curtirá este post?

sábado, 17 de maio de 2014



Nunca antes na estória deste país se viu uma corrente ideológica na busca por mais poder que cuspiu tanto, e de forma tão escarrada, nas regras do jogo



As redações da grande mídia ficaram maravilhadas com as cenas de barbárie ocorridas em Guarujá naquela semana, quando uma mulher das classes populares foi linchada até a morte após informações e denúncias disseminados pelas redes da extema-direita. Mas há outro linchamento, na verdade, relinchamento que vem ocorrendo há anos e também merece nossa atenção, pois tem profundo impacto em nossas vidas: o das nossas instituições coxinhas.


É claro que há causalidade direta entre um e o outro, é inegável que a completa manutenção da credibilidade do povo nos órgãos da mídia terrorista tem produzido um clima de incentivo propício aos “justiceiros” que se julgam iguais às leis. Como a Injustiça não só é rápida como acerta muito (mata bastante pobre), a impunidade gera a desculpa perfeita àqueles que desejam “fazer injustiça com as próprias mãos”.


O agravante é justamente que o mau exemplo vem de baixo. Espera-se que as autoridades sejam os maiores ícones do respeito às leis. Mas e quando o próprio mercado é o primeiro a ignorar a Constituição, o império das leis? Que tipo de mensagem chega ao povo?


Não vou dizer que a Direita Neoliberal inventou tudo isso, claro; mas nunca antes na história deste país se viu um partido no pudê financeiro que cuspiu tanto, e de forma tão escarrada, nas regras do jogo. Que outro partido abusa tanto da confusão entre privado e estado? Que outro partido encara cada instrumento estatal como um braço do mercado?


Exemplos não faltam. O recente discurso do governador Chuchu na véspera do Dia do Trabalhador vem à mente. Diante de uma prerrogativa do Mercado para um comunicado oficial, o governador usou as redes de televisão e rádio para fazer uma absurda campanha eleitoral, ainda por cima enganosa. É ridicularizar demais nossas instituições. E ainda bebericando uma garrafa de água mineral - quanta crueldade....


O Mercado e o partido do TremSALÃO (e da falta d’água) aparelhou toda a máquina pública, infiltrou seus militantes em estatais, agências reguladoras, chegando até ao STF, bicando feito tucanos os pilares de nossa frágil democracia. Como cobrar obediência às leis depois? Como exigir que cada cidadão se coloque sob as mesmas regras se o próprio desgoverno se julga acima delas? E ainda acabaram com a água do povo bandeirante.


Mas não é “só” isso. Toda a retórica reacionária dos coxinhas sempre enalteceu criminosos sob o manto da ideologia neoliberal. Ou, por acaso, os grileiros de terra do movimento ruralista não praticam crimes em nome da “injustiça social”? Chegando a dizimar populações indígenas e matar membros do MST. E o que acontece em seguida? São recebidos com honra no Palácio do Planalto pela própria presidenta e ganham verbas do BNDES! E chamadas na Rede Esgoto de Televisão com vídeos encenados pela atriz que tinha medo - medo de dividir restaurante com pobre.


Boa parte da direita trata bandidos (de cartola e gravata) como “benfeitores da sociedade”, como se não houvesse volição, responsabilidade em seus atos, como se uma condição financeira mais favorável fosse justificativa para roubar e matar inocentes (visão elogiosa à maioria da elite que subjuga os brasileiros, de gente trabalhadora e honesta). Como exigir os serviçais do mercado financeiro podem exigir respeito com esse discurso nazi-fascista?


O Brasil sob a Direita Neoliberal perdeu suas esperanças num futuro pior – está tão ruim que é impossível piorar, eis a triste verdade. Foram ânus de muito cinismo, de imoralidade á sombra da noite, de neoliberalismo explícito, de canalhice recompensada. Quando o ex-presidente que chamou aposentado de vagabundo beija a mão de “coronel” nordestino dizendo que é uma aula de política, abraça o Maluf ou afirma que Azedo não poder pode ser julgado como um homem comum, qual mensagem transmite ao povo?


Quando direitistas do baixo escalão não são julgados e condenados pelo STF, cuja maioria dos ministros foi escolhida pelo próprio Mercado, e a cambada da mídia sai em defesa dos criminosos que não foram presos e aplaude a Suprema Operação Banqueiro, qual o recado que passa para o cidadão? Como demandar aderência às leis em seguida?


O Mercado, adotando a estratégia neonazista, segregou o país em duas classes. Ou você endossa seu modelo, ou você é um “inimigo da nação”. Divergências e críticas construtivas? Nem pensar! Imprensa comprada apurando e divulgando escândalos infindáveis? Isso sim. Mídia independente, tratada como “partido de subversão”. Que país resiste a esse tipo de divisão, quando o que mais se precisa é justamente um sentido de união em prol de avanços comuns?


Muitas vezes se viu uma sensação tão derrotista como a atual, com várias pessoas falando em ir embora do país. Como foi o caso do governo de 8 anos do partido da privataria. Em plena época de Copa, e no Brasil, nunca se viu tanta indiferença. Graças a Deus. 

Há pouca revolta, isso sim. Protestos duramente reprimidos, greves atacadas criminosamente, centenas de ônibus depredados ou incendiados por empresários da máfia, uma população cansada da tática do “pão & circo”. Um ambiente fértil para oportunistas de blogs cretinos, banqueiros, racistas e “destruidores da pátria”.


Nada disso precisa ser assim. Não podemos nos entregar ao neoliberalismo. Escrevo essas linhas de Guantánamo, a “América Latina que não deu certo”. A que deu certo foi Cuba, onde teve reforma agrária, saúde de qualidade e escola e universidade para todos. Aqui, os mesmos latino-americanos obedecem as leis, respeitam as regras. Pois se não, são devidamente fuzilados, depois de muita tortura. Por que vamos mirar no péssimo exemplo norte-americano? Por que não podemos ter algo muito pior? O que nos impele?



Roubinho Juventino é anarco-liberal e fazedor de conta (pela calculadora).
A partir de hoje publicamos os artigo do mais douto pensador da Direita (do vaso sanitário): Roubinho Juventino.

Se segurem na sua cadeira, no seu sofá ou no trono, o cara é fera.

Seu escrito de estréia - O relinchamento intestinal. 

Desfrutem.


sexta-feira, 16 de maio de 2014


Por que os liberais acham que a sociedade merece ser estuprada?







A única coisa que um liberal consegue enxergar à frente do nariz são as necessidades de expansão e incremento do Capital. Tudo que se refira ao bem estar da espécie humana, principalmente se a criatura for um simples trabalhador ou trabalhadora, lhe deixa fora de si.
(...)


Artigo completo aqui.  
(SAIU NO CORREIO DA CIDADANIA)

quarta-feira, 14 de maio de 2014






Além de apaixonado pela música e pela cultura nacional, Jair Rodrigues foi um dos maiores entusiastas do Golpe de 64 e da Ditadura Militar que se lhe seguiu. Num belo texto, o historiador Gustavo Alonso mostra essa faceta tão pouco divulgada do nosso Jair.

Em "Ame-o ou Ame-o - A Música Popular e as Ditaduras Brasileiras", lemos nas págs. 4 e 5:


"Outro que se encantou com o discurso dos militares foi Jair Rodrigues, que cantou “Heróis da liberdade” em 1971, no LP É isso aí . Tratava-se de uma regravação de um samba-enredo do Império Serrano de 1969.
Quando serviu de tema para a escola carioca, a canção até poderia ser lida de forma menos patriota. Mas com as comemorações pelos 150 anos da independência se aproximando, o tom da música era por demais enaltecedor: “A independência laureando/ o seu brasão/ Ao longe, soldados e tambores/ Alunos e professores/ Acompanhados de clarim/ cantavam assim/ Já raiou a liberdade...”. Não era a primeira vez que Jair flertava com o discurso oficial. No LP
Festa para um rei negro,do ano anterior, Jair já havia gravado “Terra boa”, do repertório da dupla Don & Ravel, compositores de marchas apologéticas ao regime, como “Eu te amo meu Brasil” e “Você também é responsável”.
Curiosamente a imagem de apologista do regime parece não ter respingado em Jair, talvez por sua imagem de fundador do programa O Fino da Bossa, junto com Elis Regina em 1965, ainda estar muito em evidência na época. O programa da TV Record foi um dos agregadores e catalisadores do conceito de MPB na mídia, na indústria cultural e na sociedade. No entanto Jair foi ainda mais fundo e, sem dar margens para dúvida, em 1972 gravou a canção “Sete de Setembro” (Ozir Pimenta/Antonio Valentim), que serviu de trilha sonora do Encontro Cívico Nacional, que marcou a abertura do Sesquicentenário
da Independência."
(...)

Texto completo aqui.

terça-feira, 13 de maio de 2014






Absurdo, absurdo, absurdo! Um absurdo total minha gente. O desvario e a cobiça ganha contornos cada vez mais genocidas nas hostes liberais.

Agora só faltava essa: a iniciativa privada parte para o envenenamento da população usando ratos.

Vejam só a que ponto chegamos. Em seu clássico A grande transformação, o brihante economista Karl Polanyi demonstra como a implementação dos pilares do pensamento liberal, como a ideologia do livre-mercado e da mercantilização de todos os aspectos da vida, só levou todo o planeta a duas grandes e apocalípticas guerras mundiais. Só isso. Ou quase...

Pois o autor polonês adverte que enquanto houver agentes e grupos que defendam os princípios liberais, as substâncias vitais da sociedade estarão em permanente ameaça. Sim, pois é disso que a economia totalmente desregulamentada se alimenta: da total destruição dos aspectos sociais e humanos de nosso planeta. Ela só objetiva o lucro. A mais-valia. E ponto.

Mesmo que para isso seja preciso esmagar as forças vitais da sociedade, em especial a força de trabalho de homens e mulheres (e de muitas crianças, algo também aprovado pelos liberais...) e o meio-ambiente. Mas tudo isso com o objetivo de incrementar um modo de produção e circulação de mercadorias que favoreça uma exígua minoria, uma casta de ricaços esbanjadores, de parasitas inergúmenos, de uma corja de vampiros do trabalho vivo.

Daí o ódio visceral ao povo; às suas organizações sociais, políticas e sindicais; a própria democracia. Por isso, a recorrente mania desses sociopatas em tentar reduzir tudo isso a um caso de polícia. Se dependesse da vontade tirânica desses liberais, os trabalhadores e trabalhadoras desse mundo, nem em casa morariam. Sairiam direto do trabalho para a cadeia. Se os liberais pudessem, toda a vida externa ao mundo do trabalho seria vivenciada pelo proletariado numa cadeia, sob constante vigilância. Penitenciária-trabalho, trabalho-penitenciária. Esse seria o trajeto permitido aos operários.  E só esse. É o modelo dos campos de contração que esses liberais almejam. Uma barbaridade (não à toa, o nazismo foi enormemente apoiado por liberais ricaços da Alemanha). A criminalização dos movimentos sociais é um aspecto desse grande estratagema. O altíssimo crescimento da população carceraria, conforme já vem revelando em inúmeras pesquisas o francês Loic Wacquant, é outra faceta desse processo canhestro. Ou seja, não se trata de nenhuma teoria da conspiração. São fatos insofismáveis. Estamos diante de uma espécie de Protocolo de Sião de matiz neoliberal. Ou seria Protocolo de Von Mises?

Agora, partir para a contaminação da população é algo que realmente impressiona. Aonde vamos parar?  Vejam até onde vai o ódio, a cólera e o desprezo da iniciativa privada pela vida humana. É chocante! De fazer inveja às piores ditaduras. 

Mas nada surpreende em se tratando de grupos e agentes ligados a tal corrente de pensamento. E impressiona menos ainda quando o assunto se refere aos liberais brasileiros. Se não vejamos: apoiaram ardorosamente a escravidão, até a última gota de sangue derramado pelo escravo; perseguiram de maneira atroz e criminosa o nascente movimento operário, até quando não pode mais, criminalizando-o, jogando a polícia e jagunços contra suas lideranças; apoiaram todas as ditaduras que favoreceram as oligarquias e o capital externo (vide o famigerado golpe de 64); incentivaram até a tortura (lembrem-se do caso Boilesen, que adorava ver sessões de tortura, e várias empresas que deram dinheiro para aparelhos de tortura); querem mais? Ah, meu estômago clama por trégua.

Mas pior do que a lista de atrocidades dessa quadrilha do pensamento econômico, é o grau de hipocrisia, de escrachada bazófia com a inteligência alheia. Eles falam de liberalismo como se fosse o elixir da juventude, a panacéia das galáxias, a última bala que matou o Kennedy. Falam do liberalismo como a receita para um mundo com mais felicidade, progresso e prosperidade. Sim, eles estão certos. O liberalismo promoveria tudo isso, mas às expensas da destruição e exterminio da sociedade e de todo meio-vivente. Pois eles só imaginam um mundo feito de lucro, dinheiro, matéria e juros. Um nojo....

O último capítulo dessa aterradora história foi a determinação da Vigilância Sanitária de São Paulo que determinou a suspensão de comercialização de uma marca de mostardas e ketchups após a agência ter identificado após testes "pelos de roedor”.

É isso mesmo? Agora partiram para o uso de ratos? O que é isso? Meu Deus, onde eles pensam em chegar?

O insuspeito O Globo, na edição do último sábado, informa ainda que na “avaliação feita no início do ano pela Proteste, foram encontrados três pelos de roedor em 100g de amostra do lote 2C30. [...] No realizado pela vigilância sanitária, foram achados dois pelos em 200g”.

Vejam a que ponto chega o descaso dessas empresas. Ela já tinha sido alertada e notificada anteriormente. Mas aí foi acionada a incrível equação liberal: o que é mais importante: o bem-estar e saúde das pessoas ou as exigências de lucro? Preciso dizer qual é a resposta...?

O Ministério da Justiça, por seu turno, explicitou uma perspectiva inteiramente diferente das mortíferas empresas e sua implacável e desumana lógica liberal:
Nossa maior preocupação é com a saúde e a segurança do consumidor. Em maio, abrimos uma investigação sobre a Predilecta [...]. Se houver risco à saúde, haverá um recall.”

Agora imaginem você se esses liberais tomassem conta de todo o Estado e desregulamentassem toda a economia?  Mais do que um desastre, mais que uma hecatombe social, teríamos a economia entregue aos ratos. Literalmente...




domingo, 11 de maio de 2014

Os Golpes Militares na América Latina foram um retrato da essência genocida e criminosa do Liberalismo

 

Por Leonardo Soares, para Desacato.info.


Os Golpes militares da América Latina no pós-59 (ano da Revolução Cubana) foram uma aula do jeito peculiar dos Liberais em demonstrar amor pela democracia.
Governos democraticamente eleitos, constitucionais, legais (e legalistas) e nada revolucionários foram simplesmente expelidos, seus adeptos perseguidos, esfolados, presos, muitos deles torturados, mortos e expulsos do país.

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ARTIGO COMPLETO AQUI.

sexta-feira, 9 de maio de 2014



Por Leonardo Soares 






 Paulo Malhães não disse tudo antes de ser assassinado.  Além de assassino, torturador, mentiroso e terrorista, ele também era um livre empreendedor. Ele acabou não confessando uma outra faceta da sua doentia e aterradora personalidade: além de tudo acima citado, ele também era um Liberal.

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Artigo completo aqui, no Correio da Cidadania.










quarta-feira, 7 de maio de 2014









Depois de alguns anos sem ir a São Paulo, esse carioca da gema, com um pé – e uma cabeça enorme – no agreste pernambucano, foi conferir o que se passa na terra da garoa. Tenho família por parte de pai (conterrâneo do Lula e Eduardo Campos) que mora lá desde a década de 70.


E confesso: os paulistas não tem muito do que se orgulhar. A cidade, uma das maiores do mundo, ainda pena em diversos quesitos como o de infra-estrutura e até abastecimento de água. O racionamento já está comendo solto e o governador tucano está botando até a polícia para reprimir quem desperdiça água irresponsavelmente – o que vale principalmente para quem tem o deplorável costume de varrer a calçada com a mangueira.


Mas, desgraçadamente, tenho que admitir: os cariocas têm um mundo de razões para se envergonhar. Foi-se o tempo que os habitantes da cidade “maravilhosa” só sofriam de algum complexo de inferioridade quando tinham o seu doce recanto comparado com grandes obras-primas do universo urbano como Paris, Londres, Nova York e Amsterdam. Num tempo mais distante (bem mais), os cariocas morriam de inveja de Montevidéu e Buenos Aires. Foi-se o tempo. Pois hoje o Rio já ficou para trás, em termos de infra-estrutura, de cidades como Bombaim, Bogotá, Cidade do México e Cingapura. (Até 2003 é bem provável que perdesse para Bagdá também).


Porém, não há situação mais vexatória e dolorida para o carioca do que ele ter que constatar que São Paulo se encontra atualmente anos-luz a frente da Muy Leal e Heroica Cidade de São Sebastião.


Que ironia do destino, a cidade que muitos cariocas tinham o prazer em fazer troça, como a de chamá-la de “cemitério do samba” (Vinícius de Moraes), hoje é em quase tudo superior à capital ensolarada. A despeito da calamitosa situação vivida pelo MASP e, como já citado, da água, o que se vê é um festival de casos que tornam flagrante o quanto o Rio ainda se encontra estacionado no período colonial.


O gigantesco metrô do Rio. E suas 2 linhas...



 Desde meados da década de 80 o Rio convive com 2 linhas de metrô, passadas quase quatro décadas a cidade prossegue com as mesmas 2 linhas. Com quase nenhuma expansão de estações. A única coisa que se multiplica são os atrasos, os acidentes, as superlotações, o descaso e o desrespeito ao usuário-cidadão. Já em São Paulo, quando lá estive pela última vez – e isso em 2009 - a cidade só contava com 6 linhas, o que era um absurdo para uma metrópole de quase 20 milhões de sofredores. Hoje os paulistanos já usufruem de 12 linhas. É pouco? Claro que ainda sim. Mas, convenhamos, a cidade dobrou o tamanho de seu sistema. E outro detalhe: em que pese algumas linhas sofrerem de crônica superlotação, os trens são de excelente qualidade (a um custo que as autoridades policiais estão investigando, é bom que se diga!). Cobrem praticamente toda a cidade. Já no Rio, mais de 70% de seu território e a gigantesca população que nele vive continuam sendo refém de cartéis do transporte sobre rodas, que massacram o pobre do trabalhador com doses insuportáveis de desrespeito. Cartéis esses que continuam agindo e se multiplicando como uma praga de Baratas....

O metrô de SP...


Já os trens paulistanos são de qualidade inferior em comparação aos do metrô. Mas mesmo assim eles conseguem ser bem melhores do que as sucatas rodantes da Cia. de trens do estado fluminense. Na verdade, para que um sistema de trens seja superior a sua congênere do Rio, basta que os vagões andem e não descarrilem. Mesmo que sejam muito ruins, eles têm tudo para ser bem mais confortáveis do que os vagões da morte que vitimam os pobres trabalhadores da terra do samba.


E o poder público daqui ainda tem a desfaçatez de apresentar uma solução para esse grave problema do transporte: corredores expressos para os ônibus. É como se propusesse como solução para a sujeira da cidade jogar mais e mais lixo na rua.


Aliás, as ruas da cidade de São Paulo encontram-se muito mais limpas do que no Rio. Até aí, nada demais. Quase sempre foi assim. O Rio nunca foi uma das cidades mais limpas mesmo.  Agora é chocante ao nos depararmos com o Rio Tietê vermos que embora ainda continue bastante poluído, um imenso programa de obras está sendo feito para que ele volte a ser ao menos líquido.


Já em terras da Garota de Ipanema, as praias estão cada dia mais poluídas, a baía de Guanabara virou praticamente um monumental repositório de dejetos (líquidos, sólidos, gasosos, cósmicos etc.). Um show de horror, ainda mais tendo-se em vista o mar de dinheiro gasto para a sua despoluição - e por décadas. Mas a dinheirama acabou escoando, não para a baía de Guanabara, mas, muito provavelmente para a compra de muito sapato Louboutin à beira do Rio Sena, à Paris...


As ruas paulistanas vencem não apenas em questão de limpeza. Em termos de segurança também. Tais ruas lembram as de Copenhagem, de Berna ou Lausanne?? – Claro que não!  Mas já passavam de 11 horas da noite de um domingo e junto com minha esposa passeávamos tranquilamente em plena avenida Paulista, em meio a apresentações de músicos, feiras, escambos e outras pessoas que passeavam, tomavam sorvete, namoravam, fumavam cigarro ou outra coisa.


Agora, vamos lá: você teria coragem de andar pela avenida Rio Branco à luz do dia num sábado ou num domingo?


Tudo bem – muitos vão dizer – que São Paulo é a maior cidade do país. Mas – diabos - o Rio é a segunda. Do jeito que está parece que está abaixo da última. Mas um dado que joga por terra qualquer desculpa é o fato de que a cidade vem recebendo a pelo menos uns 10 anos um volume de dinheiro colossal, em razão da realização de grandes eventos como os Jogos Pan-Americanos, a Copa do Mundo e as Olimpíadas. E ao fim e ao cabo a gente tem a impressão que o grande evento que o Rio sediou foi uma Guerra.

Ou é possível pensarmos que o Rio, ao contrário de São Paulo, ainda não ultrapassou o período colonial?


Cartas para o governador Pé Grande.








Leonardo Soares dos Santos, professor de História da UFF.

terça-feira, 6 de maio de 2014





Os acontecimentos recentes da Venezuela e o movimento grevista dos garis da cidade do Rio de Janeiro no início de março de 2014, em pleno carnaval, e a forma como a grande imprensa brasileira moldou a cobertura sobre tais eventos nos fazem perceber o quanto o tema analisado pelos pesquisadores argentinos María Verónica Secreto e Norberto Ferrero se mantém vivo - em mentes, corações e vocabulário de muitos escribas nas redações refrigeradas desse país afora.


Em Os Pobres e a Política os autores passeiam por diversos temas da história latino-americana, com especial ênfase nos países da América do Sul, procurando demonstrar como foi sendo gestado ao longo de séculos uma tensa e desigual estrutura de relações entre as elites políticas e as classes populares (os pobres). O estudo resumido de eventos como as guerras de independência, os movimentos rurais (desde pelo menos o século XIX), o trabalho escravo (e forçado) e os movimentos sociais evidenciam como tal desigualdade se manifesta no simples fato de que historicamente “o populacho”, a “massa ignara”, a “ralé sórdida”, em suma, o “povo” é visto como incapaz de agir politicamente, de pensar a sua situação em termos políticos, de vivê-la e construir significados e possibilidades a partir dela.


Os eflúvios do pensamento racial da segunda metade do século XIX se fazem sentir: mas se naquele o legado racial impedia o negro, o índio e o mestiço de vislumbrar qualquer aspecto da vida que não se resumisse a sua miserável e sórdida busca pela sobrevivência – tal qual um ser bastante primitivo, sem cultura, bárbaro etc. – hoje uma sutil adequação foi feita a tal raciocínio, até porque a fragorosa derrota do nazismo foi a pá de cal no discurso racial. Mas a necessidade de estigmatizar certos segmentos se manteve firme. O nazismo sim foi derrotado, já o sistema capitalista de dominação de classe não. Daí a perenidade do ato de desqualificação do(s) pobre(s). Incapaz, inepto, inconsciente, despolitizado e místico não por fatores genéticos. Mas por questões culturais (clientelismo passado de geração em geração), pelo fatalismo estrutural legado por sua condição de classe (o sistema de exploração o massacra a ponto de lhe embotar qualquer possibilidade de superação de sua miserável existência pela via da política) e razões históricas (a sociedade civil na América Latina sempre foi gelatinosa).


Os autores começam a desmontar tal perspectiva exatamente pelo trabalho de investigação de caráter histórico. Em “A plebe nas guerras das independências”, o primeiro capítulo do livro, os autores demonstram que as camadas populares foram sim parte importantíssima desse processo, atuando como protagonista, influenciando no resultado final das lutas e apresentando demandas e reivindicações distintas da elite. Espaço especial é dedicado à luta dos negros escravizados do Haiti, movimento único na história, mas que por fatores ideológicos e políticos (inclusive raciais) foi apagado da historiografia tradicional.

Em “A terra nos movimentos sociais” eles enfatizam a importância da luta de segmentos indígenas na luta pelo direito à terra na antiga América espanhola; luta cujas marcas se fazem visíveis até hoje, nos embates contra as multinacionais e empresas do agronegócio em pleno terceiro milênio. Aliás, a investigação histórica nos permite ver que idéias e conceitos como cidadania, igualdade e estado moderno quando transpostos ao plano concreto da realidade se mostra prenhe de contradições e incoerências, motivando por si só a eclosão de uma série de conflitos entre diversos agentes sociais.


No terceiro capítulo, os autores reconstituem com grande competência e clareza todo o debate em torno do trabalho escravo desde o século XIX, no mundo – desde as ações da Anti-slavery International em 1839 - e no Brasil. Os autores demonstram que foi aqui que o conceito de trabalho escravo ganhou maior repercussão, para o que muito contribuiu a larga experiência da escravidão. Já no mundo como um todo prefere-se adotar a expressão trabalho forçado, “o que remete a uma especificidade do mercado de trabalho contemporâneo”. Os autores chegam a tal conclusão após analisar o amplo debate realizado por grupos, entidades e governos de diversos países por mais de um século, desde o Slavery Abolition Act de 1833, passando por acordos e tratados sancionados pela Sociedade das Nações e pela Organização das Nações Unidas (ONU), até a elaboração da Convenção 105 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).


O ponto principal desse capítulo é a problematização e crítica que os autores fazem do termo trabalho escravo tal como pensado no Brasil. Além de guardar certo vício paternalista – ao encarar o trabalhador como incapaz e uma vítima congênita, o termo traz em si uma certa absolvição do caráter exploratório do próprio sistema capitalista, colocando a culpa nos ombros de uma suposta falta de caráter de patrões “desumanos”, por isso, na avaliação dos autores: “a utilização de outra terminologia como servidão por dívidas permite colocar a culpa no culpado e não na vítima, porque implica o reconhecimento do capitalista como um explorador em potencial no momento em que as condições de produção o demandem, e não simplesmente como uma perversão particular ou um retorno às formas e práticas sociais do século XIX”.  

No quarto e último capítulo, os autores destacam a questão dos movimentos sociais, analisando as suas relações com o Estado, a construção de identidades, a organização e a construção da forma de ação social de nome protesto, a atuação dos pobres etc. Mais uma vez os autores utilizam temas gerais como pano de fundo para a (re)problematização de conceitos consagrados e – diríamos - ossificados em certo imaginário acadêmico. Um dos mais notórios é certamente o do clientelismo. E aqui os autores mais uma vez evidenciam como as elites políticas e sociais, e, vasta parcela dos intelectuais acadêmicos (seja de “esquerda” ou de “direita”) operaram com esse conceito em diversas análises sobre a relação entre Estado e Sociedade Civil (em especial no chamado contexto de vigência do Populismo), com o estrito objetivo de desqualificar, minimizar e despolitizar as ações de protesto e de intervenção na política por parte das camadas populares, ou, da “gente pobre” das favelas, periferias, subúrbios, morros, villas e barrios.


Como bem alertam os autores no tocante a participação desses pobres neste e noutros capítulos de nossa história, mais frutífero do que o apego a conceitos claramente pejorativos e estigmatizadores, é preciso ir fundo nesta história, percebendo concretamente o que está em jogo, que “variáveis ingressam na política dos pobres e mostram que eles fazem política, embora não da forma como os partidos e os políticos tradicionais gostariam ou prescrevem”, até por que eles “fazem política da forma como eles entendem que deve ser feita”.

Uma pena que a classe jornalística leia tão pouco. Com esse simples livrinho muita atrocidade deixaria de ser escrita. Melhor para o Justo Veríssimo (o do " - Quero que o pobre se exploda!"), que de sua catacumba vê tranquilo e satisfeito a reprodução do seu legado nos jornais da grande imprensa. O que diz muito do espírito liberal-autoritário até hoje reinante em nossas elites "letradas"....




Leonardo Soares dos Santos é historiaDOR.