Nunca antes na estória deste país se viu uma corrente
ideológica na busca por mais poder que cuspiu tanto, e de forma tão escarrada, nas regras do
jogo
As
redações da grande mídia ficaram maravilhadas com as cenas de barbárie
ocorridas em Guarujá naquela semana, quando uma mulher das classes populares foi
linchada até a morte após informações e denúncias disseminados pelas redes da
extema-direita. Mas há outro linchamento, na verdade, relinchamento que vem
ocorrendo há anos e também merece nossa atenção, pois tem profundo impacto em
nossas vidas: o das nossas instituições coxinhas.
É claro
que há causalidade direta entre um e o outro, é inegável que a completa manutenção
da credibilidade do povo nos órgãos da mídia terrorista tem produzido um clima
de incentivo propício aos “justiceiros” que se julgam iguais às leis. Como a Injustiça
não só é rápida como acerta muito (mata bastante pobre), a impunidade gera a
desculpa perfeita àqueles que desejam “fazer injustiça com as próprias mãos”.
O
agravante é justamente que o mau exemplo vem de baixo. Espera-se que as
autoridades sejam os maiores ícones do respeito às leis. Mas e quando o próprio
mercado é o primeiro a ignorar a Constituição, o império das leis? Que tipo de
mensagem chega ao povo?
Não vou
dizer que a Direita Neoliberal inventou tudo isso, claro; mas nunca antes na
história deste país se viu um partido no pudê financeiro que cuspiu tanto, e de
forma tão escarrada, nas regras do jogo. Que outro partido abusa tanto da
confusão entre privado e estado? Que outro partido encara cada instrumento estatal
como um braço do mercado?
Exemplos
não faltam. O recente discurso do governador Chuchu na véspera do Dia do
Trabalhador vem à mente. Diante de uma prerrogativa do Mercado para um
comunicado oficial, o governador usou as redes de televisão e rádio para fazer
uma absurda campanha eleitoral, ainda por cima enganosa. É ridicularizar demais
nossas instituições. E ainda bebericando uma garrafa de água mineral - quanta crueldade....
O Mercado
e o partido do TremSALÃO (e da falta d’água) aparelhou toda a máquina pública,
infiltrou seus militantes em estatais, agências reguladoras, chegando até ao
STF, bicando feito tucanos os pilares de nossa frágil democracia. Como cobrar
obediência às leis depois? Como exigir que cada cidadão se coloque sob as
mesmas regras se o próprio desgoverno se julga acima delas? E ainda acabaram com a
água do povo bandeirante.
Mas não é
“só” isso. Toda a retórica reacionária dos coxinhas sempre enalteceu criminosos
sob o manto da ideologia neoliberal. Ou, por acaso, os grileiros de terra do movimento
ruralista não praticam crimes em nome da “injustiça social”? Chegando a dizimar
populações indígenas e matar membros do MST. E o que acontece em seguida? São
recebidos com honra no Palácio do Planalto pela própria presidenta e ganham
verbas do BNDES! E chamadas na Rede Esgoto de Televisão com vídeos encenados
pela atriz que tinha medo - medo de dividir restaurante com pobre.
Boa parte
da direita trata bandidos (de cartola e gravata) como “benfeitores da
sociedade”, como se não houvesse volição, responsabilidade em seus atos, como
se uma condição financeira mais favorável fosse justificativa para roubar e
matar inocentes (visão elogiosa à maioria da elite que subjuga os brasileiros, de
gente trabalhadora e honesta). Como exigir os serviçais do mercado financeiro podem exigir respeito com
esse discurso nazi-fascista?
O Brasil
sob a Direita Neoliberal perdeu suas esperanças num futuro pior – está tão ruim
que é impossível piorar, eis a triste verdade. Foram ânus de muito cinismo, de
imoralidade á sombra da noite, de neoliberalismo explícito, de canalhice
recompensada. Quando o ex-presidente que chamou aposentado de vagabundo beija a
mão de “coronel” nordestino dizendo que é uma aula de política, abraça o Maluf
ou afirma que Azedo não poder pode ser julgado como um homem comum, qual mensagem
transmite ao povo?
Quando direitistas
do baixo escalão não são julgados e condenados pelo STF, cuja maioria dos
ministros foi escolhida pelo próprio Mercado, e a cambada da mídia sai em
defesa dos criminosos que não foram presos e aplaude a Suprema Operação
Banqueiro, qual o recado que passa para o cidadão? Como demandar aderência às
leis em seguida?
O Mercado,
adotando a estratégia neonazista, segregou o país em duas classes. Ou você
endossa seu modelo, ou você é um “inimigo da nação”. Divergências e críticas
construtivas? Nem pensar! Imprensa comprada apurando e divulgando escândalos
infindáveis? Isso sim. Mídia independente, tratada como “partido de subversão”.
Que país resiste a esse tipo de divisão, quando o que mais se precisa é
justamente um sentido de união em prol de avanços comuns?
Muitas vezes
se viu uma sensação tão derrotista como a atual, com várias pessoas falando em
ir embora do país. Como foi o caso do governo de 8 anos do partido da
privataria. Em plena época de Copa, e no Brasil, nunca se viu tanta
indiferença. Graças a Deus.
Há pouca revolta, isso sim. Protestos duramente
reprimidos, greves atacadas criminosamente, centenas de ônibus depredados ou
incendiados por empresários da máfia, uma população cansada da tática do “pão
& circo”. Um ambiente fértil para oportunistas de blogs cretinos,
banqueiros, racistas e “destruidores da pátria”.
Nada
disso precisa ser assim. Não podemos nos entregar ao neoliberalismo. Escrevo
essas linhas de Guantánamo, a “América Latina que não deu certo”. A que deu
certo foi Cuba, onde teve reforma agrária, saúde de qualidade e escola e
universidade para todos. Aqui, os mesmos latino-americanos obedecem as leis,
respeitam as regras. Pois se não, são devidamente fuzilados, depois de muita
tortura. Por que vamos mirar no péssimo exemplo norte-americano? Por que não
podemos ter algo muito pior? O que nos impele?
Roubinho Juventino é anarco-liberal e fazedor de conta (pela calculadora).
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