sábado, 17 de maio de 2014



Nunca antes na estória deste país se viu uma corrente ideológica na busca por mais poder que cuspiu tanto, e de forma tão escarrada, nas regras do jogo



As redações da grande mídia ficaram maravilhadas com as cenas de barbárie ocorridas em Guarujá naquela semana, quando uma mulher das classes populares foi linchada até a morte após informações e denúncias disseminados pelas redes da extema-direita. Mas há outro linchamento, na verdade, relinchamento que vem ocorrendo há anos e também merece nossa atenção, pois tem profundo impacto em nossas vidas: o das nossas instituições coxinhas.


É claro que há causalidade direta entre um e o outro, é inegável que a completa manutenção da credibilidade do povo nos órgãos da mídia terrorista tem produzido um clima de incentivo propício aos “justiceiros” que se julgam iguais às leis. Como a Injustiça não só é rápida como acerta muito (mata bastante pobre), a impunidade gera a desculpa perfeita àqueles que desejam “fazer injustiça com as próprias mãos”.


O agravante é justamente que o mau exemplo vem de baixo. Espera-se que as autoridades sejam os maiores ícones do respeito às leis. Mas e quando o próprio mercado é o primeiro a ignorar a Constituição, o império das leis? Que tipo de mensagem chega ao povo?


Não vou dizer que a Direita Neoliberal inventou tudo isso, claro; mas nunca antes na história deste país se viu um partido no pudê financeiro que cuspiu tanto, e de forma tão escarrada, nas regras do jogo. Que outro partido abusa tanto da confusão entre privado e estado? Que outro partido encara cada instrumento estatal como um braço do mercado?


Exemplos não faltam. O recente discurso do governador Chuchu na véspera do Dia do Trabalhador vem à mente. Diante de uma prerrogativa do Mercado para um comunicado oficial, o governador usou as redes de televisão e rádio para fazer uma absurda campanha eleitoral, ainda por cima enganosa. É ridicularizar demais nossas instituições. E ainda bebericando uma garrafa de água mineral - quanta crueldade....


O Mercado e o partido do TremSALÃO (e da falta d’água) aparelhou toda a máquina pública, infiltrou seus militantes em estatais, agências reguladoras, chegando até ao STF, bicando feito tucanos os pilares de nossa frágil democracia. Como cobrar obediência às leis depois? Como exigir que cada cidadão se coloque sob as mesmas regras se o próprio desgoverno se julga acima delas? E ainda acabaram com a água do povo bandeirante.


Mas não é “só” isso. Toda a retórica reacionária dos coxinhas sempre enalteceu criminosos sob o manto da ideologia neoliberal. Ou, por acaso, os grileiros de terra do movimento ruralista não praticam crimes em nome da “injustiça social”? Chegando a dizimar populações indígenas e matar membros do MST. E o que acontece em seguida? São recebidos com honra no Palácio do Planalto pela própria presidenta e ganham verbas do BNDES! E chamadas na Rede Esgoto de Televisão com vídeos encenados pela atriz que tinha medo - medo de dividir restaurante com pobre.


Boa parte da direita trata bandidos (de cartola e gravata) como “benfeitores da sociedade”, como se não houvesse volição, responsabilidade em seus atos, como se uma condição financeira mais favorável fosse justificativa para roubar e matar inocentes (visão elogiosa à maioria da elite que subjuga os brasileiros, de gente trabalhadora e honesta). Como exigir os serviçais do mercado financeiro podem exigir respeito com esse discurso nazi-fascista?


O Brasil sob a Direita Neoliberal perdeu suas esperanças num futuro pior – está tão ruim que é impossível piorar, eis a triste verdade. Foram ânus de muito cinismo, de imoralidade á sombra da noite, de neoliberalismo explícito, de canalhice recompensada. Quando o ex-presidente que chamou aposentado de vagabundo beija a mão de “coronel” nordestino dizendo que é uma aula de política, abraça o Maluf ou afirma que Azedo não poder pode ser julgado como um homem comum, qual mensagem transmite ao povo?


Quando direitistas do baixo escalão não são julgados e condenados pelo STF, cuja maioria dos ministros foi escolhida pelo próprio Mercado, e a cambada da mídia sai em defesa dos criminosos que não foram presos e aplaude a Suprema Operação Banqueiro, qual o recado que passa para o cidadão? Como demandar aderência às leis em seguida?


O Mercado, adotando a estratégia neonazista, segregou o país em duas classes. Ou você endossa seu modelo, ou você é um “inimigo da nação”. Divergências e críticas construtivas? Nem pensar! Imprensa comprada apurando e divulgando escândalos infindáveis? Isso sim. Mídia independente, tratada como “partido de subversão”. Que país resiste a esse tipo de divisão, quando o que mais se precisa é justamente um sentido de união em prol de avanços comuns?


Muitas vezes se viu uma sensação tão derrotista como a atual, com várias pessoas falando em ir embora do país. Como foi o caso do governo de 8 anos do partido da privataria. Em plena época de Copa, e no Brasil, nunca se viu tanta indiferença. Graças a Deus. 

Há pouca revolta, isso sim. Protestos duramente reprimidos, greves atacadas criminosamente, centenas de ônibus depredados ou incendiados por empresários da máfia, uma população cansada da tática do “pão & circo”. Um ambiente fértil para oportunistas de blogs cretinos, banqueiros, racistas e “destruidores da pátria”.


Nada disso precisa ser assim. Não podemos nos entregar ao neoliberalismo. Escrevo essas linhas de Guantánamo, a “América Latina que não deu certo”. A que deu certo foi Cuba, onde teve reforma agrária, saúde de qualidade e escola e universidade para todos. Aqui, os mesmos latino-americanos obedecem as leis, respeitam as regras. Pois se não, são devidamente fuzilados, depois de muita tortura. Por que vamos mirar no péssimo exemplo norte-americano? Por que não podemos ter algo muito pior? O que nos impele?



Roubinho Juventino é anarco-liberal e fazedor de conta (pela calculadora).

Nenhum comentário:

Postar um comentário