segunda-feira, 26 de maio de 2014

OS CAMUNDONGOS DA DITADURA VÃO VOLTANDO POUCO A POUCO PARA O LUGAR DE ONDE NUNCA DEVERIAM TER SAÍDO: OS PORÕES DA HISTÓRIA.

E OS LIBERAIS VÃO ATRÁS...







Um a um os ratos da ditadura vão sendo rastreados, identificados e devidamente malhados. Como todo bicho asqueroso deve ser. A última audiência ocorrida na ALERJ foi um bálsamo a quem anseia por justiça e pela reconstituição da verdade sobre um dos períodos mais canhestros e bizarros de nossa história - que só perde em brutalidade para a escravidão, que vigorou no país até 1888. Em plena sessão um milico admitiu, algo raro por parte de um rato, que efetivamente participou de ações de tortura. 

Para a nossa sorte, algumas dessas abomináveis criaturas resolveram por para fora toda a arquitetura terrorista e criminosa que o Estado colocou para funcionar e que ceifou a vida de milhares de cidadãos brasileiros. Um deles foi Cláudio Guerra, depois veio Paulo Malhães. Os relatos destacam um sem número de atrocidades e outras facetas da ditadura militar brasileira, como o amplo apoio de setores da imprensa, da iniciativa privada (bancos, companhias de gás, empresários) e organizações criminosas - desculpem a redundância.....

E agora temos o relato macabro do coronel Corbaje. Conforme publica o insuspeito O Globo, ardoroso defensor da Revolução Redentora de 64:

De 1970 a 1972, durante o auge da repressão política no país, as sessões de interrogatório no Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-I), na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, chegaram a mobilizar 20 torturadores para cada preso. A brutalidade servia para arrancar informação em menos de 48 horas, a tempo de fazer novas prisões. Era “um massacre”, como definiu o coronel reformado da Polícia Militar Riscala Corbaje, ex-chefe de equipe de interrogadores do DOI, ao falar pela primeira vez sobre sua participação direta nas torturas. Em três horas de depoimento ao grupo Justiça de Transição do Ministério Público Federal, Riscala contou que, ao chegar, o preso era levado à “sala do ponto”, um lugar tão terrível que “até o diabo, se entrasse ali, saía em pânico”.Pelas mãos de Riscala, que usava nos porões da ditadura o codinome “Nagib”, passaram cerca de 500 presos nos quase dois anos que esteve no DOI. Embora admita o envolvimento em sessões de eletrochoque e a prática de outras violências físicas contra presos, ele disse que o aparelho mais eficaz para fazer o interrogado abrir a boca era o pau de arara, que consiste em atravessar uma barra de ferro entre os punhos amarrados e a dobra do joelho do torturado, e colocá-la entre duas mesas, deixando o corpo da vítima pendurado. Riscala explicou que a dor era indescritível, pois todo o peso do corpo do torturado ficava “em cima dos dois nervos que passam por debaixo da perna”.
- Não tem necessidade de fazer nenhum outro sofrimento, choque, nem nada. Os outros davam tapa, davam soco. Cada um trabalhava de um jeito lá. Tu já viu estudante? Você pega um estudante, você bota ele com o peso do corpo numa barra de ferro e deixa ele 15 minutos pendurado no pau de arara. Não precisa dar choque. O cara urra de dor. Sabe por quê? Atinge os nervos da perna. O cara quer descer de qualquer maneira.

E o cinismo também dá o tom, algo também já visto em Malhães, o que demonstra total falta de arrependimento por parte desses agentes:


Torturador quer paz
Cabia a Riscala, nas sessões que comandava, decidir quem descia do pau de arara e quem continuava pendurado. Desde que figurou pela primeira vez em listas de torturadores, o coronel nunca se deixou ser visto. Conseguiu ficar nas sombras até mesmo em 1985, já na democracia, quando foi descoberto e denunciado por ex-presos políticos no cargo de assessor de Segurança do Banerj, no governo Brizola. Hoje, completamente cego e doente, ele disse que revolveu contar o que sabe para se livrar do problema:
- Só quero de vocês (membros do Ministério Público), pelo amor de Deus, que me deixem em paz. Eu sou cardíaco, cheio de problemas, tenho um neto que é excepcional, cada vez que eu venho para cá, fica a família toda nervosa. Eu falei para a mulher: não vou deixar de depor, estou cansando o meu advogado. Não tenho nada a esconder.


E curioso, esses dois momentos (escravidão e ditadura) aterrorizantes de nossa história foram acintosamente apoiados e vivamente patrocinados pela corja dos liberais. Mais ou menos 50 anos separavam a geração dos liberais do século XIX em relação aos do XX. Mas tanto um quanto o outro, mesmo com um mundo que os separavam, primavam pela boçalidade e pelo desprezo pelo senso de humanidade, de justiça e pelos princípios democráticos. Os do XIX nunca cogitaram isso. Mesmo com a proclamação da República fizeram de tudo para expurgar os pobres das urnas. E mesmo com o fim da escravidão fizeram de tudo para continuar aviltando e massacrando a população negra (não à toa, os grupos mais descarados dessa quadrilha estão criando um Partido que tem como plataforma a supressão da política de cotas nas universidades....). Os do XX a suportavam (a democracia). Mas até que em 1964 jogaram a toalha. Com golpes de fuzil e apoio de tanques sequestraram a democracia e aterrorizaram a cidadania popular por longos e tenebrosos 21 anos. Na verdade jogaram o país e a democracia que vinha se consolidando num período sombrio. Sombrio para o povo, pois para eles os anos da ditadura se constituíram mum período de negócios sem igual. Nunca a iniciativa privada fez tanta farra. Foi um eldorado. Enquanto a democracia e os que lutavam por ela sucubiam nos porões da polícia política, os magnatas-liberais saboreavam e brindavam os acordos e negociatas bilionários em festivos banquetes e bacanais pelo mundo afora. O dono de uma montadora de carros chegou a organizar um banquetaço num hotel-cassino luxuosíssimo na austríaca Salszburg .


Se há ainda qualquer dúvida, leiam abaixo o entusiasmado telegrama de Lincoln Gordon a respeito da participação ativa de Roberto Marinho junto à cúpula militar que tratou de sequestrar a democracia no país por 21 anos:

 Para: Departamento de Estado
14 de agosto de 1965
Este é um relato de um encontro extremamente confidencial com Roberto Marinho, publisher do Globo’, sobre os problemas da sucessão presidencial. A proteção da fonte é essencial.
Marinho estava convencido de que a manutenção de Castello Branco como presidente é indispensável para a continuidade das políticas governamentais presentes e para evitar uma crise política desastrosa. Ele tem trabalhado silenciosamente com um grupo incluindo o general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar, general Golbery, chefe do Serviço de Informações, Luiz Vianna, chefe da Casa Civil, Paulo Sarazate, uns dos amigos mais íntimos do presidente.
No início de julho, Marinho teve um almoço privado com o presidente. Marinho achou Castello bastante resistente a qualquer forma de continuidade de mandato ou sua reeleição. Marinho também pediu a volta do embaixador Juracy Magalhães para ser o ministro da Justiça. Objetivo: ter Juracy como um possível candidato a sucessor de Castello e melhorar o funcionamento daquele ministério, cujo ocupante, Milton Campos, é extremamente respeitável, mas dócil demais.
No dia 31 de julho, Marinho teve um segundo almoço reservado com o presidente no qual ele insistiu que eleições presidenciais diretas em 1966 sem ter Castello como candidato poderia trazer sérios riscos de retrocessos. Tudo bem pensar em Juracy Magalhães ou Bilac Pinto como sucessores, mas a eleição deles não estava garantida. E a indicação, pelo PTB, do marechal Lott com uma plataforma abertamente antirrevolucionária e com o apoio dos comunistas ilustrava os perigos.
Marinho falou ao presidente que entendia o desejo de Castello de manter a promessa de deixar o poder no começo de 1967, mas se isso fosse feito ao custo de uma volta do Brasil ao passado, Castello estaria violando a confiança que a nação tinha depositado nele. Para Marinho, Castello deveria pesar as alternativas e riscos cuidadosamente. Embora Castello não tivesse indicado explicitamente, Marinho saiu satisfeito no final da conversa. Achou que o presidente não se oporia e mesmo daria sua colaboração a medidas que permitissem sua reeleição, provavelmente na forma de eleição indireta.
Nestas bases, o grupo planejou uma estratégia para transformar a eleição presidencial de 1966 em eleição indireta e viabilizar a candidatura de Castello Branco. Os próximos passos eram ganhar alguns membros chaves do Congresso tais como Pedro Aleixo, Bilac Pinto, Filinto Muller e líderes do PSD. Marinho enfatizou que muitos obstáculos inesperados poderiam surgir nesta estratégia, que com certeza terá a oposição de Lacerda por um lado e de forças antirrevolucionárias por outro lado.
Comentário. As colunas de fofoca política estão cheias de especulações sobre mudanças no regime. Eu considero as informações de Marinho muito mais confiáveis.
Lincoln Gordon.”


Mas a luta contra os agentes que patrocinaram esses crimes contra a humanidade e a economia popular não é fácil. Eles resistem. Estão criando até um partido (bancado por um banqueiro), fóruns e até um instituto, que funciona nos mesmos moldes dos famigerados IBAD e IPES do pré-64. Escondidos nessas paredes e sob a capa da palavra democracia(risos) e liberdade(sic) tramam golpes, projetos ditatoriais e extermínio de qualquer coisa que fomente a participação popular nas instâncias decisórias da política.

Assim é não apenas nestas bandas, como no restante de "Nuestra América". O exemplo do Paraguay é emblemático.

Ali, um magnata acaba de chegar ao poder, após o golpe que derrubou Fernando Lugo - golpe este festejado pela grande imprensa tupiniquim. (Até aqui falei alguma novidade???)

O referido magnata chama-se Horacio Cartes. Prócer do Partido Colorado. Partido ultra-conservador, corrupto e avesso à democracia efetiva. (Mais uma vez: alguma novidade???)

E de cara, ele já mostra ao que veio. Depois de assegurar que escolheria "os melhores técnicos" do país para formar seu gabinete (sempre esse papo paes-costiniano...), ele me vem com um tal de Eladio Loizaga. Seu passado só é vinculado à ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). 

Assim noticiava o insuspeito O Globo:

Segundo denúncias em poder da Comissão da Verdade e Justiça Paraguaia, criada em 2004, Loizaga participou da Liga Anticomunista Mundial, foi um dos organizadores do Congresso Anticomunista Latino-americano e, através destas iniciativas, colaborou com a Operação Condor, o plano de ação conjunta entre as ditaduras do Cone Sul nas décadas de 1960, 1970 e 1980.

Que currículo hein. De tirar o fôlego. De embrulhar o estômago de qualquer democrata sincero. Mas de dar água na boca de qualquer liberal empedernido, mesmo o liberal que não gosta de ler (conforme admitiu um tresloucado esgoto-blogueiro da extrema-direita dias atrás).

E tem mais: 

O Chanceler [esse é o posto de Carter, a recompensa por servir a uma ditadura brutal] evita falar sobre seu passado e limita-se a dizer que nos anos da ditadura ele era, como muitos outros, apenas um funcionário que nada teve a ver com a perseguição a opositores.

Quando cinismo meu Deus. Mas nada mais liberal do que isso. Pois só assim para o magnata-liberal do Cartes nomer uma figura como Loizaga. O Globo ainda lembra,  

Estima-se que mais de 5 mil pessoas foram vítimas da repressão no Paraguai. Mais de 300 sobreviveram.

Mas para a desgraça dos carrascos da direita e dos liberais do Paraguay não apenas esses heróicos 300, como os familiares dos demais que foram exterminados por esse regime liberal-ditatorial, mas vastas parcelas da sociedade lutam, pressionam e exigem o resgate profundo dessa macabra história.  Estão recorrendo até à Justiça Argentina pela condenação dos colaboradores do regime paraguayo, o que a legislação paraguaia impede - muito similar a sua congênere brasileira. E aqui a Operação Condor acabou sendo uma armadilha para os vermes do regime, pois se não pode ser punido no próprio país, os milicos podem se-lo por crimes cometidos no país vizinho. 

Que o exemplo paraguaio ilumine a luta contra esse passado sombrio aqui em terras brasílicas. E que sirva de alerta às manobras cada vez mais insidiosas e alarmantes dos grupelhos liberais.








Leonardo Soares é professor, historiador e vermelho.









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