Por: Zeca Timba
Essa eu ouvi de um
amigo que mora na Alemanha (porque se depender de nossa gloriosa imprensa não
sabemos nem o que se passa aqui em Icaraí). E, confesso, achei tão absurda, que
duvido que seja verdade.
Pois bem, vamos aos
fatos. Tal como fielmente foi-me relatado.
Então. Um dos maiores
noticiosos da Alemanha, O LOBO, tem tanta história, mas tanta, que daria um
livro - do gênero policial, obviamente.
Ele remonta à década de
20. Seu mentor, Irinest Marihoff, mal pôde saborear o funcionamento do seu
pasquim. Em menos de dois anos, vitimado por um infarto fulminante, foi dessa
para pior.
O órgão (gangrenado
desde nascença) passou às mãos de Robert Marihoff. O jornal desde sempre vendia
opinião. Escrevia de acordo com o que lhe pagavam. Ou seja, vendia-se descaradamente.
Uma verdadeira prostituta da imprensa escrita. E, claro, batia no adversário ou
inimigo de quem lhe molhava a mão – ou que se recusassem a molhá-las.
Esse mesmo jornal
alemão (olha, fiquei passado de saber que isso se dava na Alemanha) sempre se
dizia porta-voz da moralidade, dos valores cristãos e guardião dos bons
costumes e blá blá blá e heil H.....!! Sim, pois não é que O LOBO seria
ferrenho adepto do nazismo.
Foi o momento em que O
LOBO e Marinhoff faria seus editoriais movido por uma opção política
consciente, por ideologia mesmo (mas, claro, sem dispensar as propinas dos
políticos). Continuava sendo prostituta. Mas uma prostituta capaz de se
apaixonar. E pelo nazismo.
O LOBO foi um dos
principais defensores dos nazistas e de seus crimes, não apenas contra os
judeus, mas principalmente contra os comunas. Para estes O LOBO fazia
editoriais de uma rispidez de fazer corar a cúpula do Partido
Nacional-socialista. Era câmara de gás para baixo. Defendia abertamente a
prática da tortura, das execuções em massa, prisões, trabalhos forçados e
outros bichos. Tudo na cara. De maneira aberta, franca. “Abaixo o câncer do
comunismo”. “Salvemos nossas crianças”. “Fora Satanás” – eram essas
invariavelmente as manchetes que todo pai de família saboreava logo pela manhã,
junto ao pãozinho fresquinho passado na margarina e do café-com-leite da patroa,
ralinho, mas gostoso que só. Os comunistas eram apresentados como devoradores
de crianças e criancinhas. Todos os dias figuras como a Morte figuravam
segurando não apenas uma foice, mas também um martelo. Alguns cartunistas davam
asas à liberdade poética e inseriam uma terceira mão, para que a Morte pudesse
segurar com ela um volume do Manifesto
Comunista...
O nível de devoção e
fidelidade do LOBO ao regime nazista tinha chegado a tal ponto, que quando
Hitler subiu ao poder, o pasquim tascou em fontes garrafais:
“RESSURGE A
DEMOCRACIA!”
Isso, para vocês terem
uma idéia da animalidade que se revestia tamanho fanatismo e engajamento. Um
horror!
Os crimes do regime
hitlerista iam se sucedendo: mortes, prisões e tortura de opositores políticos;
campos de concentração; holocausto. Em suma: crimes contra a humanidade numa
variedade que daria para encher as páginas amarelas.
E diante disso O LOBO
fechava os olhos. Não era com ele. Mas fazer o quê se O LOBO lucrava rios de
dinheiro com o regime. Este ajudou a expandir o império de Marinhoff que além
do jornal tinha uma rádio. Mas agora com os milicos nazistas no pudê, O LOBO
foi além, para todo um Brasil de audiência: ele ganhou uma concessão de TV. E
que logo se multiplicou em milhares de afiliadas por todo o território alemão.
Marinhoff ria que nem
pinto bávaro no lixo. Estava nem aí para gemidos de dor e desespero de
militantes políticos nos porões do DOPS (Deutschland Orloff Polizei Saar).
Tanto que mandou um abestalhado que vivia lambendo as suas botas na TV LOBO
encomendar uma cantiga indecorosa, um hino à falta de sensibilidade com o
momento em que vivia a Alemanha (eram tempos do AÍ-5, os atos intestinais) e
ela era mais ou menos assim:
Hoje é um novo dia
De um novo que começou....
E os presos e presas
políticas, suas famílias sofrendo como se elas mesmas sofressem com cada
choque, com cada pontapé dado na boca do estômago, por cada unha arrancada, e a
música da Rede do Dr. Marinhoff cantarolando:
Hoje a festa é sua
Hoje a festa é nossa
É de quem quiser
Quem vier
A festa é sua
Hoje a festa é nossa
É de quem quiser
O autor da encomenda se
chamava Nelson Mortta e o autor da letra alienada Marcos Valla. O primeiro vive
até hoje contando mentira em forma de auto-biografia e é colunista – adivinhem!
– d’O LOBO.
Mas tempo vai, tempo
vem, veio a guerra (aquela depois da primeira) e os nazistas...sifu!!
“Que fazer?”, indagava
Marinhoff – já preocupado em ter exclamado justo essa indagação e ainda mais de
quem....
Depois de um período de instabilidade,
Marinhoff sabia que enquanto houvesse capitalismo e – principalmente – um setor
pujante do capital financeiro, de fome
ele nunca iria passar. Então logo viria a bonança neoliberal e O LOBO elegeria
novos inimigos, novos capetas a serem combatidos com todo o empenho: o Estado,
o funcionalismo público e as esquerdas em geral.
Novos inimigos. Grandes
negócios.
A Rede do doutor
continuava fechada com o empresariado. O muro de Berlim já tinha virado pó. Mas
o anti-comunismo, apesar de tosco e anacrônico sempre poderia servir para uma
manipulação aqui, uma mentira ali.
Deu muito certo por
exemplo nas eleições de 89. Quando foi com tudo para derrotar o líder operário.
O sindicalista que se orgulhava de não brigar com os patrões, que tinha até
escolta do DOPS, mas que O LOBO jurava que era um bolchevique carcará
sanguinolente. Besteira: nem O LOBO acreditava nisso, mas a classe média adorava
acreditar, para ter uma justificativa para votar sem culpa no Kollor. O caçador
de Marajás da Pomerânia, a região mais pobre da Alemanha.
Os anos se passaram e a
sociedade alemã depois de décadas de pura letargia parece ter acordado e voltou
ás ruas com tudo: cobrando, exigindo. Não, não era só pelos 20 centavos de
Euro. Era muito mais. Os alemães estavam enojados com tanto roubo, com tanta
obra superfaturada, com os serviços públicos da pior qualidade.
O LOBO tentou
criminalizar o movimento. Como faria o Roberto Marinhoff – mas não fez pois já
havia morrido: Gra-ças-a-De-us!!!!
Mas os revoltosos foram
firmes: voltaram-se contra O LOBO, chamando-a de Organização, não das
Telecomunicações, mas do crime organizado mesmo.
Fazendo O LOBO pedir
desculpas por ter apoiado a ditadura hitlerista. O jornaleco pediu penico,
dizendo que errou feio em apoiar o nazismo.
O LOBO parecia ter se
regenerado. Mas que nada. Borlaff Auschass das Putein (traduzindo: tudo da boca pra fora)...
Não demorou muito para com seus
editoriais policialescos, parecendo ter sido escritos por carrascos da Gestappo e das SS, resolver criminalizar as esquerdas e as organizações de
direitos humanos por apoiar manifestantes.
Fazer política para O LOBO é o mesmo que
roubar. Apoiar o direito a manifestação e ao protesto é o mesmo que matar e
estuprar – e como tal deve ser tratado como crime hediondo e seus autores,
trancafiados, pendurados em pau de arara. Devem ir para Pedrinhas de Stuttgart.
Tudo em nome da democracia. A mesma que O LOBO exaltava quando da ascensão dos
nazistas.
Pois talvez democracia para ele seja
isso: o direito de não ver contestado seu direito de monopolizar as
comunicações do país e o livre direito de manipular e mentir via satélite.
“ - Inacreditável!”, não resisti e
disse, com cara de pastel ao meu amigo. Estava tão chocado que não pude segurar
o clássico: “ – Que barra hein cara...”
No meu íntimo não pude deixar de
sentir e dizer a mim mesmo, bem baixinho: “coitado de quem vive na Alemanha”.
Mas tomei coragem e, como quê apresentando uma
luz no fim do túnel ao meu confrade:
“- Volta pro Brasil!!”