sábado, 15 de fevereiro de 2014






Por: Zeca Timba

Essa eu ouvi de um amigo que mora na Alemanha (porque se depender de nossa gloriosa imprensa não sabemos nem o que se passa aqui em Icaraí). E, confesso, achei tão absurda, que duvido que seja verdade.

Pois bem, vamos aos fatos. Tal como fielmente foi-me relatado.

Então. Um dos maiores noticiosos da Alemanha, O LOBO, tem tanta história, mas tanta, que daria um livro - do gênero policial, obviamente.

Ele remonta à década de 20. Seu mentor, Irinest Marihoff, mal pôde saborear o funcionamento do seu pasquim. Em menos de dois anos, vitimado por um infarto fulminante, foi dessa para pior.

O órgão (gangrenado desde nascença) passou às mãos de Robert Marihoff. O jornal desde sempre vendia opinião. Escrevia de acordo com o que lhe pagavam. Ou seja, vendia-se descaradamente. Uma verdadeira prostituta da imprensa escrita. E, claro, batia no adversário ou inimigo de quem lhe molhava a mão – ou que se recusassem a molhá-las.

Esse mesmo jornal alemão (olha, fiquei passado de saber que isso se dava na Alemanha) sempre se dizia porta-voz da moralidade, dos valores cristãos e guardião dos bons costumes e blá blá blá e heil H.....!! Sim, pois não é que O LOBO seria ferrenho adepto do nazismo.

Foi o momento em que O LOBO e Marinhoff faria seus editoriais movido por uma opção política consciente, por ideologia mesmo (mas, claro, sem dispensar as propinas dos políticos). Continuava sendo prostituta. Mas uma prostituta capaz de se apaixonar. E pelo nazismo.

O LOBO foi um dos principais defensores dos nazistas e de seus crimes, não apenas contra os judeus, mas principalmente contra os comunas. Para estes O LOBO fazia editoriais de uma rispidez de fazer corar a cúpula do Partido Nacional-socialista. Era câmara de gás para baixo. Defendia abertamente a prática da tortura, das execuções em massa, prisões, trabalhos forçados e outros bichos. Tudo na cara. De maneira aberta, franca. “Abaixo o câncer do comunismo”. “Salvemos nossas crianças”. “Fora Satanás” – eram essas invariavelmente as manchetes que todo pai de família saboreava logo pela manhã, junto ao pãozinho fresquinho passado na margarina e do café-com-leite da patroa, ralinho, mas gostoso que só. Os comunistas eram apresentados como devoradores de crianças e criancinhas. Todos os dias figuras como a Morte figuravam segurando não apenas uma foice, mas também um martelo. Alguns cartunistas davam asas à liberdade poética e inseriam uma terceira mão, para que a Morte pudesse segurar com ela um volume do Manifesto Comunista...

O nível de devoção e fidelidade do LOBO ao regime nazista tinha chegado a tal ponto, que quando Hitler subiu ao poder, o pasquim tascou em fontes garrafais:
 “RESSURGE A DEMOCRACIA!”


Isso, para vocês terem uma idéia da animalidade que se revestia tamanho fanatismo e engajamento. Um horror!

Os crimes do regime hitlerista iam se sucedendo: mortes, prisões e tortura de opositores políticos; campos de concentração; holocausto. Em suma: crimes contra a humanidade numa variedade que daria para encher as páginas amarelas. 

E diante disso O LOBO fechava os olhos. Não era com ele. Mas fazer o quê se O LOBO lucrava rios de dinheiro com o regime. Este ajudou a expandir o império de Marinhoff que além do jornal tinha uma rádio. Mas agora com os milicos nazistas no pudê, O LOBO foi além, para todo um Brasil de audiência: ele ganhou uma concessão de TV. E que logo se multiplicou em milhares de afiliadas por todo o território alemão.

Marinhoff ria que nem pinto bávaro no lixo. Estava nem aí para gemidos de dor e desespero de militantes políticos nos porões do DOPS (Deutschland Orloff Polizei Saar). Tanto que mandou um abestalhado que vivia lambendo as suas botas na TV LOBO encomendar uma cantiga indecorosa, um hino à falta de sensibilidade com o momento em que vivia a Alemanha (eram tempos do AÍ-5, os atos intestinais) e ela era mais ou menos assim:
Hoje é um novo dia
De um novo que começou....

E os presos e presas políticas, suas famílias sofrendo como se elas mesmas sofressem com cada choque, com cada pontapé dado na boca do estômago, por cada unha arrancada, e a música da Rede do Dr. Marinhoff cantarolando:
Hoje a festa é sua
Hoje a festa é nossa
É de quem quiser
Quem vier
A festa é sua
Hoje a festa é nossa
É de quem quiser

O autor da encomenda se chamava Nelson Mortta e o autor da letra alienada Marcos Valla. O primeiro vive até hoje contando mentira em forma de auto-biografia e é colunista – adivinhem! – d’O LOBO.

Mas tempo vai, tempo vem, veio a guerra (aquela depois da primeira) e os nazistas...sifu!!
“Que fazer?”, indagava Marinhoff – já preocupado em ter exclamado justo essa indagação e ainda mais de quem....

Depois de um período de instabilidade, Marinhoff sabia que enquanto houvesse capitalismo e – principalmente – um setor pujante do capital financeiro,  de fome ele nunca iria passar. Então logo viria a bonança neoliberal e O LOBO elegeria novos inimigos, novos capetas a serem combatidos com todo o empenho: o Estado, o funcionalismo público e as esquerdas em geral.

Novos inimigos. Grandes negócios.

A Rede do doutor continuava fechada com o empresariado. O muro de Berlim já tinha virado pó. Mas o anti-comunismo, apesar de tosco e anacrônico sempre poderia servir para uma manipulação aqui, uma mentira ali.

Deu muito certo por exemplo nas eleições de 89. Quando foi com tudo para derrotar o líder operário. O sindicalista que se orgulhava de não brigar com os patrões, que tinha até escolta do DOPS, mas que O LOBO jurava que era um bolchevique carcará sanguinolente. Besteira: nem O LOBO acreditava nisso, mas a classe média adorava acreditar, para ter uma justificativa para votar sem culpa no Kollor. O caçador de Marajás da Pomerânia, a região mais pobre da Alemanha.

Os anos se passaram e a sociedade alemã depois de décadas de pura letargia parece ter acordado e voltou ás ruas com tudo: cobrando, exigindo. Não, não era só pelos 20 centavos de Euro. Era muito mais. Os alemães estavam enojados com tanto roubo, com tanta obra superfaturada, com os serviços públicos da pior qualidade.

O LOBO tentou criminalizar o movimento. Como faria o Roberto Marinhoff – mas não fez pois já havia morrido: Gra-ças-a-De-us!!!!

Mas os revoltosos foram firmes: voltaram-se contra O LOBO, chamando-a de Organização, não das Telecomunicações, mas do crime organizado mesmo.

Fazendo O LOBO pedir desculpas por ter apoiado a ditadura hitlerista. O jornaleco pediu penico, dizendo que errou feio em apoiar o nazismo.

O LOBO parecia ter se regenerado. Mas que nada. Borlaff Auschass das Putein (traduzindo: tudo da boca pra fora)...

Não demorou muito para com seus editoriais policialescos, parecendo ter sido escritos por carrascos da Gestappo e das SS, resolver criminalizar as esquerdas e as organizações de direitos humanos por apoiar manifestantes. 

Fazer política para O LOBO é o mesmo que roubar. Apoiar o direito a manifestação e ao protesto é o mesmo que matar e estuprar – e como tal deve ser tratado como crime hediondo e seus autores, trancafiados, pendurados em pau de arara. Devem ir para Pedrinhas de Stuttgart. Tudo em nome da democracia. A mesma que O LOBO exaltava quando da ascensão dos nazistas.
Pois talvez democracia para ele seja isso: o direito de não ver contestado seu direito de monopolizar as comunicações do país e o livre direito de manipular e mentir via satélite.

“ - Inacreditável!”, não resisti e disse, com cara de pastel ao meu amigo. Estava tão chocado que não pude segurar o clássico: “ – Que barra hein cara...”

No meu íntimo não pude deixar de sentir e dizer a mim mesmo, bem baixinho: “coitado de quem vive na Alemanha”.

 Mas tomei coragem e, como quê apresentando uma luz no fim do túnel ao meu confrade:
“- Volta pro Brasil!!”