“O professor é um privilegiado”, “A educação ameaça quebrar o país”, “O professor luta contra a modernização da Universidade”.... com tais chistes a Grande Imprensa teima em fazer pouco caso da inteligência coletiva.
O país está tão habituado com a corrupção e indecência desses meios de comunicação, que se um órgão de imprensa decidisse ser honesto viraria manchete........
Nunca a máxima de John Lennon (“A
ignorância é uma dádiva”) foi tão festejada pela grande imprensa. Mas
totalmente desvirtuada. É bom que se diga. Se em Lennon ela continha uma
desilusão com o postulado transformador contido nos apelos iluministas, a
imprensa brasileira a confunde com contra-informação. Como se desinformar o
público leitor fosse um objetivo dos mais nobres, uma missão redentora. É
incrível a incompatibilidade dessa mídia com notícia franca e pautada pela ética.
Verdade e imprensa não se bicam no Brasil. Querem uma analogia? Veja (vou
evitar usar essa palavra...) a relação entre Diego Maurício (atacante do Fla) e
a bola. O ódio aqui também é recíproco, é o principal mediador dessa relação.
O caso das greves dos professores é
sintomático. A abordagem efetuada por parte da Cosa Nostra midiática sobre o
movimento dos professores impressiona pela vulgaridade. A afirmação de que os
professores lutam por privilégios e não por direitos é fichinha. Eu já ouvia
isso desde o tempo da Vovó Mafalda. E depois que me tornei historiador, vi que
esse já era um chavão comum no jornaleco do Carlos Lacerda, o Tribunda de
Imprensa. Hoje a mídia vai ás favas com todos os escrúpulos e consegue ir além.
Maior “gasto” em educação, por exemplo, além de causar aumento de impostos,
pode levar o Brasil à beira do abismo. Meu Deus, nem Roberto Campos, mesmo
depois da 10ª talagada de vodka siberiana - sim, pra isso não havia pudores
ideológicos por parte de nosso eterno Bob Field... – chegaria a tanto!
Lendo as páginas dos pasquins a disposição
vemos que há mais. O conteúdo pornográfico antes restrito às revistas
masculinas, pode ser visto hoje inclusive em editoriais dos mais respeitáveis.
Ou pelo menos no mais global deles. Vemos, assim, que os professores estão em
greve para evitar as transformações que vem sendo operadas (com canivete
enferrujado) na universidade pública. Na verdade, os professores lutam para
continuar a não trabalhar, para continuar fingindo que dão aulas, para
continuar a pendurar seus jalecos na poltrona enquanto curtem
programação da Grobu, para prosseguir na arte de brincar de fazer ciência, de
fingir que produzem etc. Os professores são praticamente chamados de malandros,
alcoviteiros, espertalhões. Chega a dar saudade dos tempos de Flávio Cavalcanti
quando ele acusava os professores de fazerem propaganda estalinista com tempero
cubano nas salas de aula. Nem mais o direito ao glamour de sermos acusados de
subversivos temos mais. Não, agora não, não somos mais acusados de termos uma
ideologia – mesmo que feda. Agora somos associados a verdadeiros trambiqueiros.
Vagamos hoje no mesmo terreno dos jogadores que fingem contusões para não
jogarem. Somos hoje os servidores-chinelinho da educação. Che, Lênin, Trótsky,
Fidel, Ho Chi Min, Rosa, Barão de Itararé... que nada. A desmoralização chegou
a tal ponto que nos impingem como referências Ronaldinho Gaúcho, Romário, Tiririca,
Joel Santana, Cabral, Mano Menezes - ou seja, figuras que “trabalham” nas horas
vagas (que geralmente duram quase o dia inteiro).
Para defender tais conceitos a
imprensa lança mão de recursos os mais rasteiros. Chega até mesmo a arregimentar
ex-funcionários públicos. Até mesmo sociólogos. Um deles deixou uma
universidade há alguns anos atrás. E decidiu então servir com galhardia à
(iniciativa)privada. Mal sabia o Mundo (S.A.) que estava na verdade ganhando um
grande comediante. Mas ele deve ter pensado: todo o artista tem de ir aonde o
povo está. E começou a cavar uma vaguinha em alguma emissora de TV. E então não
pensou de novo – aí já seria exigir demais....
– e concluiu que se um sociólogo pôde um dia fingir ser presidente por 8
anos, por que não um comediante fingir ser versado no mister sociológico.
Mas quis o destino que esse pândego
fosse exercitar a sua larga veia para a comédia justamente num canal
sobranceiro na arte de abrigar anos a fio figuras da estirpe de um Fofão, Topo
Gigio, Golias e – impossível esquecer – Daniel Azulay, que botava pra quebrar
com a sua Turma do Lambe-Lambe, sempre desejando muito algodão doce para a
garotada.....
Mas que doce recanto é esse? Vocês
podem estar se perguntando minha gente: estamos falando da Rede Bandeirantes.
Fundada por João Saad, com grande ajuda ($$) do seu sogro, Adhemar de Barros (o
do rouba, mas faz). E que decolou com a ajuda dos governadores biônicos da
ditadura. A mesma TV que nos brindou com Bolinha e suas boletes. Lembram da
Zulu, a que nunca sorria???
Quem poderia prever que a Band, canal
de pura inucência, tornaria-se hoje um dos principais veículos de ataque ao
funcionalismo público. Mas qual a surpresa? Lembremos de um outro componente do
cast da emissora – o inconfundível Casoy. Antigo militante do Comando de Caça aos
Comunistas (CCC), que a partir do Mackensie lutava contra os ímpios a serviço
de Moscou, os lacaios ateus, esses algozes da família brasileira, poltrões que
queriam cubanizar a pátria amada. Bóris, figura impoluta, de moral ilibada, até
por isso só andava armado (Revista O Cruzeiro, 9/11/1968). Mas hoje sua arma é a palavra. A verdade. E é com
ela que ele aponta para a cabeça dos funcionários públicos. Vadios que não
querem trabalhar: “Uma Verrrgonha!” Frase também repetida à exaustão pelo
comediante que agora divide a bancada com Casoy, o mesmo que horrorizado com a
felicidade dos Garis com as festas de natal de 2009, exclamou: “Que merda!”
Esse é o nosso Casoy, o Justo Veríssimo do telejornalismo tupiniquim.
E vejam também como a nossa grande
imprensa tem os pés atolados num dos períodos mais deprimentes de nossa
história. E olha que não falei da “Toda Poderosa”. Ah, também essa é
café-com-leite. O órgão que saudou a “revolução redentora de 64” como o
“ressurgimento da democracia”. Como as pessoas podem se surpreender com isso?
Como elas podem esperar bom senso dessa gente? Como esperar o mínimo de
honestidade intelectual no tratamento de matérias de conteúdo cívico e
democrático, como é a demanda legítima e cidadã dos servidores públicos? Os
servidores são tratados como vigaristas. Trata-se dum desrespeito, sem dúvida.
Mas esperar alguma coisa do PIG, ainda mais honestidade, é o mesmo que esperar
que caia neve no sertão do Seridó.
Não se surpreendam caso encontrem -
numa antecipação da declaração de amor de Macarrão, o Maka, ao seu amado
ex-goleiro do Flamengo, o Bruno – na lápide do patriarca global a seguinte
inscrição: “Famiglia Marinho e Ditadura. A amizade nem mesmo a força da
democracia popular irá destruir, amor verdadeiro!”
Leonardo Soares é historiador, professor da UFF/Campos e teima em ser flamenguista.
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